DOR DE BARRIGA

A estação ferroviária vivia a agitação das seis da tarde. Teobaldo pisou a plataforma de embarque ainda a tempo de ouvir o último aviso: “Atenção, senhores passageiros! A composição com destino a Calmon partirá dentro de cinco minutos”.

Mal descansou a tiracolo junto à faixa amarela, Teobaldo levou as mãos à barriga, como se tivesse sido atingido por uma bala perdida. Naquele momento, nada pior: eram os intestinos clamando por socorro.

Cinco minutos! Ele voou na direção do banheiro mais próximo, arrastando a tiracolo pelo concreto áspero. Enfrentava na trajetória toda sorte de repelões e achincalhes. E tudo sob as vistas atentas dos seguranças, que já o confundiam com uma personagem típica do meio: o trombadão. Tomara que não esteja ocupado, pensou. Não estava. Em menos de três minutos, Teobaldo retomou o trajeto, tão afoito quanto na ida, atropelando todos que por infelicidade surgiam à frente. Claro que não se livrou de novos impropérios e até de alguns safanões. O importante é que conseguiu alcançar o trem no momento em que soava o apito de partida.

Acomodado depois numa extremidade do vagão, de pé, meio espremido, ele seguia viagem tranqüila. O que incomodava era o comportamento estranho daqueles passageiros ao seu redor. Mediam-no dos pés à cabeça, cochichavam e caíam na risada. Que chateação! Teobaldo passava as mãos nos cabelos, no rosto, descia os olhos disfarçadamente pelo corpo, tentando em vão descobrir uma anomalia que o tornava objeto de atenção e chacotas.

Quando o trem chegou finalmente ao destino, Teobaldo atingiu a rua mais rápido que de costume. Pro inferno os zombeteiros! O diabo era que no trajeto percebia ainda, atrás de si, risinhos e gozações. Era demais! Ele estava a ponto de perder as estribeiras, pois o rebolado já havia perdido. Se não chegasse logo a casa, quase fora de si, só Deus sabe o que aconteceria ao infeliz.

Havia algo de errado, isso lá havia. Mas o quê? A primeira coisa que lhe ocorreu, ao entrar, foi mirar-se no espelho. Viu-se de frente, e nada. Apenas o suor a escorrer-lhe pela testa, a camisa encharcada... Mas isso era só conseqüência do pesadelo vivido e o que ele procurava era a causa.

Dava meia volta, já deixando o espelho, quando, de repente, empalideceu. Aí então o mistério se desvendou. É que ao sair do banheiro da estação, às pressas, Teobaldo não dera conta de que arrastava um enorme rabo de papel higiênico, cerca de meio metro de comprimento, pendurado nos fundilhos. Vexame!

Dorival Coutinho da Silva
Enviado por Dorival Coutinho da Silva em 05/04/2008
Reeditado em 09/05/2009
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