Dengue Delivery - Final
O que a decepção não é capaz de fazer com um espírito forte e decidido! Nunca havia se imaginado a cantarolar Cazuza! (" ...a tua piscina tá cheia de ratos..."). Se não bastasse isso, o chouriço ainda estava pelo preço de morte no açougue. Realmente o sangue estava se tornando um artigo de luxo.
Ao abrir a porta de sua casa, não se incomodou, muito menos se surpeendeu, com o jovem Luiz Maia com as patinhas sobre sua mesinha de mogno, bebericando sua cerveja e beliscando um franguinho ao molho pardo que havia sobrado do almoço. Ao vê-lo assim, tão cabisbaixo, Luiz fez questão de se aproximar para bater um papo com seu novo companheiro de casa:
- Então cara. Como foi lá na sua reivindicação para me desalojar de sua propriedade?
- Não entendi nada Luizinho...disseram que a partir de agora você está sob minha responsabilidade e que terei de assumir por todo e qualquer ato que venha a realizar. Que mundo estranho.
- Eu bem que lhe disse.
- Agora me é totalmente incompreensível que nossos governantes exijam que sejamos responsáveis por vocês.
- Verdade...
- Admito, que grande parte da culpa pela acelerada proliferação de seus familiares, incluso você, é responsabiliade do povo, que durante muito tempo negligenciou os cuidados para que houvesse um crescimento desmedido de sua espécie. Fomos habilmente enganados pelas jogadas publicitárias que nos garantiam que não mais havia o risco de uma epidemia, que era nulo o risco de se alastrasse o contágio das maléficas doenças que vocês transmitem. Sem ofensas amigo. - disse dando-lhe um afável tapinha na perna, digo, na pata (intimidade é fogo).
- Eu entendo sua frustração. Mas acredite que não é nossa culpa. Simplesmente cumprimos com as atribuições naturais que fazem parte de nossos genes (afinal, temos isso ou é designação humana???).
- Sei bem disso Luizinho, e não mais o culpo. Quero que saiba que você é muito bem vindo em minha casa, e que darei o máximo de mim para que se sinta completamente a vontade aqui.
Dando uma gostosa risada, para definitivamente quebrar o clima do ambiente, ele respondeu:
- Acho bom, pois " eu voltei, e dessa vez é pra ficar..." (cantarolando)
- Até quando Deus?! - disse pondo as mãos sobre a cabeça, e tapando os ouvidos.
Esta simples história é dedicada aos nossos queridos e digníssimos representantes, pela maravilhosa forma de inserção da natureza em nossa sociedade.
De que forma absurda e covarde eles se eximem de suas responsabilidades. E de que forma leviana banalizam a vida humana como se fossemos nós os culpados pelos atuais males que assolam nosso cotidiano. Famílias choram seus entes queridos mortos por um mal que poderia ser simplesmente impedido, bastando que eles cumprissem à risca aquilo para que foram eleitos: lutar pelo povo, por seus direitos, por sua saúde e sua dignidade.
Àqueles que foram covardemente afetados por este infortúnio, meus sentimentos e vibrações positivas.