Dengue delivery - Parte I
Será que existe coisa pior do que o soar da campainha em plena hora que estamos tomando um bom banho? Difícil. Talvez o soar contínuo da dita campainha enquanto tomamos o mesmo banho seja sim, pior do que isso. Portanto, não é de se admirar que ele tenha saído praguejando do banheiro, vestindo as pressas seu roupão e indo atender a porta. Como cidadão confiante nas eficientes políticas de segurança pública, olhou por apenas 30 segundos no olho mágico antes de destravar as 7 trancas que lhe mantinham na segurança e aconchego do seu lar. Era um entregador dos Correios.
- Bom dia senhor, estou aqui para entregar uma encomenda urgente. Pode assinar aqui por favor?
- Claro que sim. (Que p*rra será essa?).
-Obrigado.
Após recolher a assinatura, o carteiro vira-se pro seu amigo, que aguarda na famigerada van amarela, e grita:
- Oh Menezes! Desce a encomenda aí!
Não pôde ele acreditar no que seus olhos mostravam. Saia naquele momento de dentro da van um enorme, um gigantesco inseto. Tinha a aparência de um pernilongo super nutrido, não fosse pelas temíveis patas bicolores. Não bastasse esse absurdo, o qual ainda não acreditava, o dito inseto ainda se dirigiu a ele como um velho amigo, com palavras íntimas e afáveis:
- Fala meu querido! Meu quarto já está no esquema? - E já foi entrando como se fosse de casa.
- ...
Virando-se, confuso e embasbacado ao funcionário da ECT, não teve sequer tempo de perguntar e já lhe foi dito:
- Só cumprimos ordens senhor. Passar bem. - E velozmente se foram.
Ele fechou vagarosamente a porta, dirigiu-se à cozinha, bebeu um copo d'água gelado, acendeu um cigarro e sentou-se no sofá, tentando entender que raios tinha acontecido. O silêncio imperava na casa. E aos poucos, devido à quietude do ambiente, concluiu, aliviado, que tudo não passara de um sonho. Ou um pesadelo. Mas que bom que já tinha passado. O momento de paz foi quebrado com um estridente grito:
- Oh meu filho, levanta essa bunda do sofá e me dá uma força aqui. Não estou conseguindo guardar minhas coisas no armário. Acho que precisaremos de um maior.
Céus! Então não fora um sonho. Isto não poderia estar acontecendo com ele. Certamente se tratava de um mal entendido.
- Escuta aqui seu...
- Desculpe, que modos os meus. Muito prazer, meu nome é Aedes Aegypti, mas pode me chamar de Luiz Maia, seu criado.
- Não estou entendendo nada. Como você veio parar aqui? Por que logo aqui em minha casa? E que história é essa de seu quarto, guardar suas coisas?
- Oh rapaz, você não anda lendo os jornais? Eu vim pra ficar cara! Vamos ser companheiros agora. Podemos sair pra pescar, jogar um futebol, pegar umas gatinhas, chupar um sanguinho...vamos nos divertir a beça meu!
- Mas eu não te quero aqui! Saia da minha casa agora, seu mosquito imundo!
- Opa, opa, opa! Calma aí meu jovem. Estou tentando ser o mais agradável possível e você me trata assim? Que modos são esses? E imundo é a vovozinha viu! Sou muito limpo. Criado na mais pura e límpida água. Saúde!
- Mas, mas...
- Não tem nem mas nem meio mas. Só estou aqui fazendo meu papel. Se não está satisfeito, que vá reclamar com as autoridades!
- Pois é isso mesmo que vou fazer seu chupa sangue fedido!
Dirigiu-se rapidamente para seu quarto, vestiu a primeira roupa que encontrou e voltou à sala:
- Vou resolver isto agora mesmo. Vou à polícia, ao exercíto e até no morro da nóia para dar um fim neste absurdo. - disse já se dirigindo até a porta.
- Beleza. Aqui, quando voltar, passe no açougue e traga um quilo de chouriço pra mim por favor.
- Você vai ver só uma coisa. - e bateu a porta atrás de si. Mas voltou rapidamente e perguntou:
- Comum ou apimentado?
Continua...