"BURRO, BURRO, BURRO!..."

Esta história, verídica, escrita como esquete, faz parte de uma peça, "O Banco", escrita por Marcio Funghi de Salles Barbosa, com a finalidade de mostrar o lado ridículo, mas engraçado das pessoas que usam drogas, incluindo o álcool e o fumo, consideradas as mais consumidas.

Pinguito era um tipo popular da cidade de Luz – MG. Sempre vestido de caqui, roupa surrada e descalço. Invadia os bares da cidade, atrás de alguém que lhe pagasse um trago.

A cena se passa num bar, onde três homens tomam suas pingas e o Pinguito vai entrando.

H1: Olha! Vejam quem vem vindo! O Pinguito! Vamos dar um trote nele?!

H2: Deixa comigo!

P: Ôi zente! Dá pra pagá um trago?(Senta-se no banco)

H3: Fica por conta da casa! (Põe uma pinga no copo, que é tragada num segundo).

H2: Pinguito, nós estávamos pensando, por quê você não tira carta de motorista?

P: Ié? Pra quê?

H2: Procê poder dirigir caminhão! Já pensou você dirigindo por aí afora? Ia poder conhecer o mundo todo, ganhar muito dinheiro, e poder pagar pinga pra todo mundo!...

P: Ié! Ia sê bão! Ia conhecê Beozonte!

H1: Então, seu bobo! Vai tirar carta!

P: Ié muito caro? Comé qui faiz?

H2: Não custa nada! Se você quiser, nós te damos um papel, você faz o exame de graça, e ainda se diverte!

P: Ié! Pinguito qué sim!

H2: Só tem um problema, como você não enxerga as cores, nós vamos te ensinar. O farol tem três cores. Repete conosco: vermelho, amarelo e verde.

P: Bremêio...

H1: Amarelo...

P: Marelo...

H3: E verde!

P: Vêde!

H2: Repete, vermelho, amarelo e verde!

P: Bremêio, marelo e vêde!

H1: De novo, vermelho, amarelo e verde!

P: Bremêio, marelo e vêde!

H2: De novo, Vermelho, amarelo e verde!

P: Bremêio, marelo e vêde!

H3: Isto! Você vai repetindo, prá não esquecer!

P: Bremêio, marelo e vêde! Bremêio, marelo e vêde! Bremêio, marelo e vêde! (enquanto repete, H2 rabisca um papel e lhe entrega)

H2: Essa é a carta prá você entregar na Delegacia!

P: Mais os hômi num vão me prendê?

H1: De jeito nenhum, tá chegando o Natal, eles ficam bonzinhos!...

P: Tão tá bom! Taca mais uma pinga aí!

H3: Por conta da casa! Mas não esquece: vermelho, amarelo e verde!

H2: (Enquanto Pinguito se afasta:) O coitado é daltônico! Quero ver a cara do escrivão!... (Os três caem numa risada disfarçada)

P: (Sai como se dirigisse um caminhão) Bremêio, marelo e vêde! Bremêio, marelo e vêde!... (atravessa o palco repetindo e dirigindo. Chega num guichê, é recebido por um escrivão)

E: O quê que você quer Pinguito?

P: Vim tirá carta pra guiá caminhão! Aqui o papel! (entrega o bilhete).

E: (Sorrindo, após ler o bilhete) Muito bem! Vamos fazer o teste do semáforo!? (Aponta para o vitral antigo da janela e pergunta) Que cor é esta aqui?

P: É Bremêio!?

E: Não é vermelho, você está confundindo!

P: (contando nos dedos) Então, se não é Bremêio é marelo!?

E: Também não é o amarelo! Você está errando tudo!

P: (contando nos dedos) Se num é Bremêio, nem marelo... É vêde!

E: Ê Pinguito! Se você não sabe os nomes das cores, não dá pra ter carta!? Estuda mais e volta outro dia!

P: (atravessando o palco, em direção ao bar) Burro, burro, burro, burro, burro!

H2: E aí, Pinguito! Como foi o exame?

P: Cês me mandaro prum burro! Comé qui posso tirá carta anssim?

H1: Mas o que houve, Pinguito? Não deu certo? Por que você acha que ele é burro?

P: O homi ficou me perguntando as cor da janela!...

H3: E daí?

P: Cês acha que eu sou bobo de num sabê, qui num dá prá passá com caminhão na janela?

H1,H2,H3: (Se olham com cara de burros, enquanto um barulho de relinchar, fecha a cena).

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Márcio Funghi de Salles Barbosa

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