DESPARAFUSANDO

O novo diretor que chegou ao hospício veio com disposição mas ao ver que a casa comportava 100 internos e inchada abrigava 300 tomou uma decisão radical já na primeira reunião.

- Pra atender cem internos, teremos que devolver outros duzentos para o seio da sociedade. Alguém aí com uma idéia para ser posta em prática de imediato?

Psiquiatras, assistentes sociais e enfermeiros presentes, totalizando 12 se encolheram mudos deixando ver que nada tinham como sujestão, em que pese ter com causa o fato de grande parte daqueles internos serem pessoas que a família na verdade não queria em casa e viram no hospício uma boa válvula de escape para não absorve-los (pagando em espécie por isso). Sem falar no prefeito que dava um aumento considerável na lotação, destinando alguns loucos sem recursos ás expensas do erário, caindo em muito a quallidade do atendimento. Correção que o diretor queria fazer já. (por interesse próprio é claro).

- E então pessoal nenhuma idéia? - Insiste.

Uma irmã de caridade sempre dada a flexibilidades falou com a tranquilidade que despertou o interesse de todos:

- Temos aqui um enfermeiro que pode ter a solução dessa superlotação. Só que ele não está aqui, pois foi levar uns internos para tirar umas fotos lá na cachoeira mas está perto de voltar.

O diretor não gostou da intervenção da irmã e chamando um assesssor disse aos cochichos:

- Com cinco profissionais da área com curso superior, vão deixar a solução nas mão de um enfermeiro?

- Diretor, o senhor é novo por aqui e deve pelo menos até acostumar-se, limitar-se a acompanhar a sistemática da casa.

- Está certo mas até onde eu sei uma irmã de caridade só deve meter a colher de pau na hora que alguém está praticamente nas mão de Deus ou do diabo se for caso, não aqui num momento delicado como esse.

- Não tente diminuir a importância dela pois poderá ser uma ótima aliada. - Rebate o assessor acostumado a usar as pessoas.

Resignado e sabendo que jamais viria dele a solução de um problema que não estava familiarizado pois viera de uma área da tesouraria do governo na verdade expulso por falcatrua, teve que ceder. Até porque, de administração (de qualquer espécie) não entendia coisa nenhuma, dai que sensato logo entendeu com rapidez que todos por ali, como ele eram incompetentes, e mais: corrupto até a medula como poderia sobrar algum para ele se o recurso era um tanto e gastava-se o triplo naquele inchaço? Decidiu sem demora:

- Nem esperar vamos, pegue um carro e vá atrás desse Enfermeiro, temos que demadar logo.

Mais tarde o enfermeiro foi posto á frente do diretor que já lhe perguntou olhando-o com desconfiança, visto ele ter a aparência dos internos dali.

- Notei que veste-se como os internos você sempre foi enfermeiro aqui?

- tem uns 15 anos, além disso na selva deve-se ser um bicho ou o bicho te pega.

- faz sentido! E antes disso?

- Bem, antes eu era um dos internos.

- Está brincando? - chamou o assessor e cochichou>

- Vamos solucionar o problema de superlotação a partir da ajuda de um ex-interno? é melhor internarmos aquela freira.

- Nada disso, fala o assessor, vamos ter que pagar pra ver, não temos outra idéia temos?

- Isso não acaba bem. - fala o diretor indeciso olhando para o enfermeiro que pacientemente aguardava uma decisão.

- Muito bem, - Define. - Como você sabe temos internos demais e precisamos atender melhor os que realmente precisam da casa. A irmã de caridade falou que você pode ter uma idéia que nos ajude, tem algo em mente?

O enfermeiro Serafim esfregou as mãos com a modesta posição de quem tinha um problema dificil a resolver, como se a não ser ele somente Deus solucionaria, mas abriu o bico.

- Eu tenho senhor diretor como reduzir esse inchaço de imediato.

- É mesmo, como?

- Pegue esse internos e leve-os para o pátio central.

- Muito bem. - Concorda o diretor estranhando.

Uma vez no pátio a grande quantidade de internos limitou-se a prestar atenção ao enfermeiro que sem demora rabiscou a imitação de uma porta com um pedaço de carvão no muro branco onde escreveu "SAÍDA" e gritou para eles:

- Olha lá pessoal quem quiser ir embora, lá está a saída.

Grande quantidade de internos amontoaram pela porta visionária tentando sair, num patético rolo humano e o diretor ouviu do enfermeiro antes de desaprovar tal idéia:

- Vê Senhor diretor, alí tem os doidos que nunca devem deixar esta casa, e olhe aqueles outros. - Disse mostrando dezenas de loucos que não tiveram a mesma iniciativa.

- Aqueles devem ser cadastrados para retornar ao seio familiar.

O diretor gostou e passou a elogiar a inteligência do Enfermeiro Serafim enquanto passavam por entre os que deveriam ser dispensados.

- Você será lembrado em outras decisões importantes Serafim.

No traçado que andavam, iam encontrando internos sentados e o diretor entusiasmado parou por um dos que sairiam e disse:

- Ola Amigo, sabia que você poderá sair de volta para casa em breve?

O interno disse a frase que diretor algum gostaria de ouvir, com a tranquilidade menos desejada ainda.

- Pra ser franco eu nem sei o que estou fazendo aqui.

- Tudo bem, fique tranquilo, poderá sair o mais breve possível. Agora me diga, o que acha daqueles que tentaram sair por aquela "saída" que o Serafim aqui fez, achou-os doidos demais?

O interno coçou a cabeça e disse:

- Aqueles lá diretor não são doidos não, eu acho que eles são mesmo é burros.

- Burros? porque burros?

- Ora diretor então não vê? como eles vão passar por aquela "saída" se a chave dela está bem aqui no meu bolso?

MORAL? CADA DOIDO COM SUA MANIA.