A AGULHA
Óculos na ponta do nariz, mãos trêmulas, Dona Zuca tentava enfiar a linha no orifício da agulha. Como não conseguia, colocou a agulha entre os lábios, umedeceu a ponta dos dedos com saliva e esfregou a extremidade da linha, para facilitar sua introdução no orifício.
— Alberto, venha aqui, depressa! — gritou para o filho, que se encontrava na cozinha.
Quando o rapaz se aproximou, Dona Zuca estava pálida, procurando qualquer coisa no chão.
— O que foi, mãe? Já terminou a barra das minhas calças?
— Acho que engoli a agulha, filho. Estava aqui na minha boca e... sumiu!
— Impossível, mãe. Deve ter caído por aí. Vamos procurar.
Arrastaram as poltronas, vasculharam debaixo do tapete, botaram a sala pelo avesso, mas nada de aparecer a agulha.
— Chame o médico! — pediu Dona Zuca, desesperada, esfregando as mãos no pescoço e na região do tórax. Estou sentindo alguma coisa estranha aqui dentro... Pelo amor de Deus, chame logo esse médico!
Telefone mudo, Alberto correu para o orelhão defronte à farmácia. Quando retornou, Dona Zuca estava deitada no sofá reclamando dos sintomas que se agravaram. Enquanto o médico não vinha, só restava ao rapaz tranqüilizar a mãe e continuar procurando a bendita agulha.
— Achei, mãe, achei a danada... — revelou Alberto, exibindo a agulha como um troféu. Estava aqui, bem no vão do assoalho.
A mulher se levantou, conferiu o achado e sorriu aliviada.
— E as dores, mãe? — quis saber Alberto.
— Bobagem, filho... Já passou.
Nisso, a campainha tocou. Era o médico.
* * *
(caso verídico de auto-sugestão)