O PICHADOR

O ser humano é constituído de um órgão de importância ímpar para o seu desempenho intelectual. Tal órgão se chama cérebro. Quando jovem, podemos, em comparação com uma fruta, dizer que ele ainda está verde. E por força dessa comparação, também podemos afirmar que, para alguns, ele demora a amadurecer, ou talvez nunca amadureça.

Notadamente, o cérebro é o responsável direto por “desenhar” e consolidar o futuro de seu “dono”.

E por falar em cérebro verde, escrevendo essas mal traçadas linhas, pus-me a lembrar de Gisildo, mais conhecido pela sua “tribo” urbana como “GIRICO”. Isso mesmo, com “G” e “I”, formando a sílaba “GI”. Começava aí a avacalhação. Não só por não se grafar da forma correta, com “J” e “E”, mas, principalmente, pelo sentido pejorativo de sua alcunha.

“Os mano e as mina qué, e eu gosto!” – dizia “GIRICO” acerca de seu apelido, também orgulhoso por ser considerado líder entre os cérebros “verdes”, os quais continuaram por longos tempos mais “esverdeados” que lentes de contato das atrizes daquelas quase desconhecidas novelas mexicanas.

Bem, essa “tribo” do “GIRICO” tem, por esporte, o alpinismo. Contudo, não é montanha que eles escalam, mas sim o topo dos prédios, sacadas de apartamentos, parapeitos de sobrados, placas de lojas, etc!

“Mas para que fazem isso?” - você pode se perguntar.

Simples! Para emporcalhar a cidade, com suas ridículas e vãs PICHAÇÕES, materializando, assim, em forma de “ARTE”, a sujeira incrustida em seus cérebros “aborrescentes”!

A pichação é algo nefasto para quem já teve o dissabor de gastar muito dinheiro com tinta (cujo preço é alto), no intuito de tirar aquelas letras sem sentido e horrorosamente pichadas em seu muro residencial ou de seu estabelecimento comercial.

Voltando a falar de apenas um dos “GIRICOS”, o qual é protagonista dessa estória, informa-se que o mesmo recebe, de vez em quando, uns trocadinhos de seus “papais”, achando estes que ele irá comprar apenas “CEROL” para a linha de sua pipa. No entanto, desvia a sua “mesada” dessa brincadeira para outra não menos imbecil, a fim de comprar tintas, rolinhos e sprays para rabiscar os “painéis” alheios. Bom, já dizia o sábio chinês: “FILHO É IGUAL PEIDO: SÓ AGÜENTA QUEM FAZ!”

Na calada da noite, covardemente, no anonimato, “GIRICO”, com o celular, orienta o restante da “tribo” sobre onde irão emporcalhar a cidade, pois sabe que, na madrugada, todos os que trabalharam durante o dia, forçosamente, para descansar, têm de dormir à noite, não é, “mano”?!

Pois bem! Depois de orientar aquele grupo de “MOCORONGOS”, os quais seguiam à risca suas ordens (seguir ordem de “GIRICO” é o fim da picada!), ele e mais seu “FIEL” (tratamento usado para o olheiro comparsa), puseram-se a escalar o muro de fundos de um sobrado, a fim de conquistar a lateral e posteriormente a frente da parede branca, para a “evacuação” de suas emporcalhadas “idéias”. Esses crápulas mocorongados têm até um “Código de Ética”, pode?! “Nunca pichar em cima de outra pichação, pois os “mano” e as “mina” de outra “tribo” não perdoam tamanho sacrilégio”!

Quando “GIRICO” estava se equilibrando em cima do muro, no silêncio sepulcral da madrugada, com sua latinha de tinta e também seu rolinho preparados, eis que escorregou, caindo no quintal todo murado daquela residência. Tamanha falta de sorte a sua, né? Rolinho espirrado para o canto, porém a lata de tinta, direto em sua cabeça. “AH, COITADO!!!”

Quando “GIRICO” se restabeleceu daquele estatelado tombo, observou que não estava só, na escuridão do quintal. Olhando ele ao seu lado, deparou-se com dois pares de olhos azulados, que teimavam em brilhar, ao sabor da luz do luar, e, em seguida, ouviu-se um rosnado, fazendo um dueto de pitbulls, que estavam a um palmo de sua pessoa. “GIRICO” podia sentir até o calor da respiração ofegante daqueles “fiéis escudeiros” do proprietário do sobrado, em sua canela. Foi aí, então, que começou a verdadeira razão de possuir ele tão diferenciado apelido.

É... “GIRICO”, não adianta correr nesse quadrilátero hermeticamente fechado, com esses robustos “vigias” ao seu encalço.

Foi tão grande o rebuliço das mordeduras, que seus gritos desesperados de socorro ecoavam por quarteirões.

Então, o dono do sobrado, o qual havia trabalhado, pesadamente, por oito longas horas na árdua tarefa da construção civil, foi obrigado, mesmo contra sua vontade, a pular da cama, pois era humanamente impossível alguém dormir diante daquela estupenda algazarra!

Aí, por um comando seu, aqueles que, para muitos, são considerados “demônios”, como eram bem tratados e perfeitamente adestrados, de forma complacente, obedeceram-lhe imediatamente, soltando aquele verdadeiro energúmeno intruso.

O proprietário da residência, além de ser processado posteriormente pelos pais do “GIRICO”, teve ainda o dissabor de levar aquele tremendo IDIOTA para o hospital.

Hoje, “GIRICO”, além de continuar pichando à noite, desfila pela cidade, durante o dia, com pichações permanentes das cicatrizes que os pittbuls assinaram em sua cara, na qual ainda ficou faltando uma orelha!

Por fim, só me resta lembrar a fala de um grande filósofo caipira:

“Quem nasceu pra ser “GIRICO” nunca chegará a CAVALO!!!”