SETE PALMOS
O meu amigo Severino tinha ido ao cemitério prestar as últimas homenagens a um camarada que passara desta para a melhor. Ao terminar o ato fúnebre, retirava-se cabisbaixo. Súbito, ouviu gritos de mulher perto dali. Movido então pela curiosidade, encaminhou-se na direção do aglomerado de pessoas.
Um caixão descia à cova. Ao lado, amparada por parentes e amigos, uma senhora idosa implorava em prantos:
— Não me deixe só... Quero ir com você, meu filho!
Os presentes acudiam com palavras de consolo. Mas ela insistia:
— Por favor, me larguem!... Quero ir com ele...
A agitação da mulher, embora compreensível, já beirava o exagero. De repente, por um descuido das pessoas que a seguravam, ela avançou para o buraco prestes a receber a terra, escorregou e caiu de joelhos sobre o caixão. Foi então que a infeliz, num desespero ainda maior, inverteu o sentido do apelo:
— Socorro! Me acudam! Tirem-me logo daqui!...
E o meu amigo Severino, que observava com perplexidade e condolência, conseguiu criar uma moral para o drama que acabara de presenciar: “Às vezes, o que se pede não é exatamente o que se quer”.
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