INSTRUÇÕES PARA RETIRAR O ANZÓL DO BEIÇO DE UM GATO
Nessa pescaria fomos apenas o Luiz (Zóio verde) e eu.
Chegamos e pescamos alguns lambaris para usarmos de isca mais tarde e pescarmos peixes maiores. Pegamos então umas quatro varas mais grossa com anzóis maiores e fomos tentar a sorte, ficamos insistindo bem umas duas horas e nada, já estava escurecendo e resolvemos voltar para o rancho preparar um cai duro que a fome já era grande.
Deixamos as varas encostadas em pé do lado de fora do rancho inocentemente iscadas com os lambaris, pouco tempo depois ouvimos o barulho das varas caindo no chão, o Luiz foi verificar e notou que um gato amarelo na tentativa de comer o lambari acabou com o anzol cravado no lábio superior, literalmente fisgado!
Eu vou confessar que não gosto nem um pouco de gatos, não que queira o mal dos bichanos, mais o Luiz é exagerado o gatinho choramingava nos braços dele, o cara já estava quase chorando junto com o bicho. Depois de varias tentativas ele segurando o gato sobre a mesa e eu tentando retirar o anzol sem sucesso, o Luiz mais desesperado que a vitima falou assim:
-Magrão vai ali ao rancho do caseiro e chama-o para nos ajudar!
-Meu você viu a cara de reprovação que aquele velho fez quando nos deu as chaves do rancho de pesca mesmo com autorização por escrito do patrão dele, seu Pires?
-Eu é que não vou pedir ajuda pra aquele velho ranzinzo.
-Ranzinzo é você cara!
Passava a mão na cabeça do gatinho e dizia:
Calma bichinho nós vamos tirar isto daí, calma. Olha ai cara temos que dar um jeito nisso.
Confesso que fiquei com dó (do meu amigo Luiz) e fui La chamar o velho carrancudo.
Bati palmas na frente do ranchinho, abriu-se a janela a velha colocou somente a cara e perguntou que foi fio?
-O...marido da senhora esta por ai?
-Ta deitado, que o moço qué?
-É que...um gato fisgou-se no anzol e precisamos que nos ajude a retirar.
Antes de a velha dizer qualquer coisa, ouvi o velho resmungar La dentro o seguinte:
-Que tipo de homi são esses que num consegui tira um anzór do beiço de um gato?
Gelei, suei frio de raiva do lazarento, pensei ,bem que podia dormir sem essa!
Por um instante a velha sumiu da janela, então ouvi dizer para ele:
-Pare de reina, vista a carça e vá ajuda os minino logo!
Ah! A velha deu uma dura nele, vibrei como se tivesse feito um gol, voltou e disse-me:
-Pode desce que ele já vai fio.
Cheguei de volta, o mesmo cenário, o Luiz com o gato entre os braços, os dois choramingando!
O velho chegou em seguida, não disse nem boa noite, cara de poucos amigos.
Deu uma boa olhada no gatinho e falou olhando para o Luiz:
-Você segura as pata da frente e a cabeça dele.
Olhou bem para mim e disse:
-Você magrelo, segura na barriga e nas pata trazeira.
Uma vez posicionados conforme as instruções do mal humorado,
ele pegou na linha que segura o anzol somente com os dedos polegar e indicador, pegou com muita sutileza, como uma costureira segura uma linha antes de passar no orificio da agulha, deu uma empurradilha para frente uma puxadinha para traz e....puxou com tudo,puxou como se tivesse fisgado um grande peixe, a diferença é que era um grande gato!
Mais nem que quiséssemos segurar o bicho não conseguiríamos, deu um salto tão grande que se não fosse o telhado pará-lo, eu é que não sei dizer a que altura ia subir, também bateu, desceu, caiu de pé e saiu que nem uma bala correndo na escuridão.
Olhei para o Luiz (congelado), estava posicionado do mesmo jeito, como se o gato ainda estivesse ali em suas mãos, suava muito, os olhos verdes do Luiz pareciam (sem exagero) duas bolas de tênis, nos fitamos por um instante não acreditando na cena em seguida olhamos para o velho “carrasco” que descaradamente falou:
-Tem que se num back só! Aprendero?
E saiu pisando firme de volta pro rancho.