A LÓGICA... DA “COISA ESTRANHA!”

A história que aqui contarei é verdadeiramente engraçada e...muito minha.

Baseia-se no humor, na graça e na ingenuidade do "pensamento mágico" que toda criança tem.

Nós que escrevemos, vez ou outra entramos no baú da memória, e hoje me lembrei de algo muito curioso que aconteceu na minha infância.

Diziam meus pais que sempre fui uma criança extremamente conversadeira alegre e “perguntadeira”, rápida no gatilho das respostas, porém quando nasci, meu pai, um filho de italiano e muito bravo, já contava com quarenta e três anos e criou-me dentro dum extremo rigor...em tudo!

Mas sempre que eu podia, quebrava as regras do meu pai. Perguntava mais do que devia...para a época,e as respostas nem sempre vinham esclarecedoras a contento.

E eu nascia exatamente nos meados de um mil novecentos e sessenta, pouco antes da revolução sexual da paz e do amor...e do tão cantado “amor livre”.

Sexo ainda era muito tabu, programas sensuais eram censurados, minha formação básica era dada em colégio religioso de freiras, aonde educação sexual era pecado e “menina era menina”; e certa vez, do meu pai, levei um bronca ENORME, quase um castigo, porque aos cinco anos, dizia que amava o Roberto Carlos...e que queria ser bailarina.

Na verdade, intuo que já nascemos poetas! Amo o Roberto até hoje.Sempre o amarei.

Mas, nunca fui bailarina de palco...apenas o fui na vida e na poesia.

E certa vez, voltando da escola dentro do ônibus escolar do seu José, uma amiga resolveu me contar (na lata!) como se fazia filhos.

É claro que nunca acreditei em cegonhas.

Mas também não cheguei a filosofar tanto quanto minha filha, que aos quatro anos me perguntou exatamente assim:

-Mamãe, por onde nascem os filhos eu já entendi, mas mamãe, eu não entendo, como consegui entrar na sua barriga?

Bom, aquela minha amiga era “esperta’ e avançada demais para a época, e ambas tínhamos apenas nove anos!

E daí me contou tudo! Lembro-me que arregalei os olhos, abri a boca...e levei um baita susto!

-Isso é mentira!-foi a minha reação- é Deus quem faz os filhos!

Mas ela explicou-me todos os pormenores...

Fiquei perplexa porque achei tudo “aquilo” esquisito demais.

Antiergonômico, hoje eu diria!E não é mesmo?

Voltemos aos nove anos e é fácil entender que criança, no mínimo, deva achar tudo “aquilo”...meio circense...um tanto desconfortável. Ao menos na minha época...

E foi assim que arrumei uma confusão dos diabos dentro do ônibus escolar, ao sentir meus pais injuriados...

Daí,contra ataquei ! Rapidamente fiz as contas, pois a lógica era matemática!

Como tinha um só irmão e minha amiga tinha cinco, pensei alto:

-Bom, ainda bem que meus pais só fizeram essa “coisa estranha” duas vezes! E os seus que fizeram muitas!

-O quê acontece aqui, que “coisa estranha” é essa, me perguntou a cara brava da dona Leonor, a senhora que tomava conta das crianças do ônibus...e para quem eu dava um trabalhão...

-É ela “tia”, que fica me contando mentira...respondi encabulada.

Hoje quando lembro na minha reação, vejo como as crianças mudaram, ou o quanto os pais mudaram...sei lá, e o alto nível de repressão que existia naquela minha nem tão remota época assim.. .

Mas “aquilo”, obviamente, foi sempre do mesmo jeito! E não mudou pelo tempo!

Ou melhor...só se aperfeiçoou.

Mas, para vocês amigos do Recanto, vou lhes confessar: eu não mudei muito de opinião.

Pensando bem... “na lata”, na fria avaliação da mecânica dos corpos, “aquilo” , é meio estranho mesmo, mas respiro fundo e concluo aliviada:

Ainda bem que a lógica do amor...nunca foi só "física ou matemática"...

Não é ciência exata, e sua beleza e significado sempre estarão acima da quantificação dos “números".

*****

Nota:

Dona Leonor (?) e seu José (in memorian) existiram, eram pai e filha, e não são nomes fictícios.

Soube que o sr.José faleceu num acidente com o ônibus da escola (S.I.C), aquele mesmo que nos transportava.

Não omiti seus nomes porque fazem parte duma linda história e eu os trago com carinho dentro de mim, pois ambos representam ícones duma fase muito feliz da minha vida.