NA VENDA

Numa pequena localidade de Minas Gerais, pela manha quando o Sol ja comecava ficar inconveniente, tres cegos descansavam numa venda as margens de uma estrada cuja saída dava para a cidade de Bias Fortes.

Tinham caracteristicas àrabes e não eram andarilhos. Viviam da mexida com o próprio dinheiro, o que os fazia movimentar a pé e dificilmente se davam mal, para tanto evitavam ciganos a todo custo, por serem estes últimos espertalhões e ja ter pregado neles uma peça. Certo é que estavam indo visitar um seleiro a quem deviam favores e o Sol os retivera ali.

Aguardavam silenciosos para nao molestar o dono da venda que os olhava incomodado por não gastarem. Haviam na verdade pedido água, sendo eles inimigos de enfiar a mão nos bolsos como se dentro tivesse venenosa cascavel que deveria ser evitada.

Eis que surge a porta o Matias. Um sitiante fanfarrão, dado a brincadeiras de mau gosto que vendo ali os três cegos resolveu se divertir com eles. Dai que lhes fala festivo num tom de voz alarmante:

- Mas o que vejo aqui? três amigos desprovidos da visão, e uma realidade triste meus amigos serem impossibilitados de verem as coisas maravilhosas desse mundão de Deus. como se chamam?

- Salim, Obede e Maluf! - responde Obede por todos.

- Interessante, são nomes originários do Oriente, creio.

- E isso mesmo.

- Vejam bem senhores, hoje a sorte sorriu para voces, estou completando mais uma doce primavera e quero compartilhar minha alegria com alguém e porque não com quem tem levado a vida com adversidades como e o caso de vocês?

O que se chamava Salim cochicha aos outros.

- Todo aquele que fala muito como esse ai, não é confiável.

- Bobagem ele apenas comemora a seu modo o aniversário. - Confabula Obede que fala ao sitiante:

- Parabéns pelo aniversário amigo.

- Obrigado. Muito bem, assim, vou colocar uma nota de cem reais no bolso de um de vocês e poderão ir ao restaurante mais próximo e refestelarem de tudo. Assim, ainda que sem minha presença estarão comemorando o meu aniversário, o que me deixará da mesma forma feliz.

- Não é necessário moço é muita bondade mas te desejamos feliz aniversário de todo modo.

- Nada disso, faço questão. - Fala o Matias dando um abraço em cada um dos três sem colocar nada em seus bolsos e reafirmando: -Pois bem já coloquei a nota no bolso de um vocês e quem é saberá por certo. Até logo que tenho que olhar um capado em um sítio mais adiante.

- Muito obrigado rapaz e mais uma vez feliz aniversário . - Agradece o Obede julgando estar com um do outros dois a nota de cem reais, e os outros, cada qual pensando a mesma coisa ficando todos alegres com a ideia de uma refeicão sem qualquer gasto.

Perto do meio dia, os três resolveram ir ate um restaurante localizado numa rua sem saída com fama de saborosa comida e preço salgado, o que não incomodou quem acreditava estar com dinheiro e disposto a gasta-lo com bom paladar.

Na entrada foram recebidos pelo garçon que não associando aqueles três suados cegos à condicão de fregueses habituais lhes falou com ar aborrecido:

- Vocês três, Vão lá pros fundos que a cozinheira verá o que pode fazer. Mas não demorem pois daqui a pouco chegarão fregueses.

- Garcon. alguém te pediu alguma coisa de graça? saiba que pagaremos o que pedirmos. Nos veja agora uma mesa que vamos almoçar ou cego por aqui não tem vez?

- Claro o tratamento e igual para todos.

Mudando de idéia a respeito dos três cegos sem contudo deixar de destinar lhes a condição de pessoas de baixa estirpe, o garçon, chegou pensar que aquele três iriam pedir três sortidos, devorar com rapidez saindo com igual celeridade pela mesma porta que entraram e quem sabe esfarrapados comoestavam não voltasse ali nunca mais? Pensamento que foi mudado quando o Obede disse:

- Nos veja uma refeição à base de farofa, batatas fritas e frango assado.

- E uma garrafa de vinho chapinha. - completa Salim.

- Esperem um pouco. - Disse o garçon desaparecendo casa adentro, indo confabular com o dono do restaurante.

- Chefe, tem uns cegos lá no salão que se julgam uns endinheirados,

- È mesmo? - E o que pediram?

- Lauta refeição regada a vinho.

- Ora sirva-os então.

- Para mim eles não passam de três espertos.

- Deixe de idéias e vá atender os fregueses que temos.

Sem demora o garçon chegou com o vinho e disse aos três comensais que a refeição seria servida. Dai a pouco, de fato a cozinheira chegou com vasilhames trazendo tudo que foi pedido e todos passam a comer sem cerimônia, deixando em pouco tempo tudo vazio.

Pachorrentos aguardavam silenciosos quando Obede quebra o silêncio e fala a Salim:

- Salim, com creio ser você a estar com os cem reais, cuide para que a conta seja paga que ainda temos a visita ao celeiro.

- O que o faz pensar que sou quem está com esse dinheiro, veja ai com o Maluf.

- Eu não peguei nada, certamente foi um de vocês.

- Como? Alguém por aqui brinca e veja que não temos tempo para brincadeiras, Maluf, não tens mesmo o dinheiro?

- Certamente que não, aliás, percebo que é possível que aquele sitiante pode nos ter feito de idiotas.

- Então diabo. - Fala perdendo a paciência o Obede. - - Trate de pagar Salim, ou não sairemos daqui.

- Você quem pague, pois não lhe disse que aquele sitiante falava demais e não era confiável? além domais há tempos você nos deve um almoço.

- Isso é que não, acha que vou reduzir minhas economias enchendo a pança de vocês dois, esperem sentados ai.

Vendo os três cegos falando em alto tom, ainda que não incomodasse os outros fregueses, o garçon chama o dono do restaurante e lhe diz:

- Aqueles três se desentenderam por algum motivo.

- Espero que não seja falta de dinheiro.

- Em todo caso vou deixar o Sansão na porta. Se pensam que sairão sem pagar vão se dar mal hoje.

- Isso! - concorda rápido dono da casa.

Na mesa a conversa não esfria:

- Salim você sempre quis comer de graça ás minhas custas mas hoje trate de pagar sua conta ao menos.

- Nem adianta dar uma de nervoso. você faz isso para não pagar já te conheço.

- Eu pago o que eu comi e você sim é que é um

aproveitador.

Nisso entra saido sabe -se lá de onde o Matias que depara justo com a discussão causada pela brincadeira que ele iniciou e além de não livrar os cegos de tal situação, teve folego para piorar as coisas. Encostou-se no balcão e chamando a atenção de todos disse:

- Olha ali ´pessoal, três cegos brigando. - depois alardeou:

- Cuidado, ficou perigoso! Um deles tem uma faca afiada.

Sem saber qual deles estava com a faca e nem esperar para ver se era verdade,. Os três cegos derrubaram uma pesada mesa empurraram na correria o Sansão que também foi ao chão e ganharam a rua sem deixar rastro e nem pagar a conta.

05/05/2011

Pacomolina
Enviado por Pacomolina em 05/03/2008
Reeditado em 04/05/2011
Código do texto: T888499
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.