O TEMPO É IMPLACÁVEL
Você começa a descobrir que está ficando velho quando o seu DNA começa a apresentar problemas. Ele, o DNA (Data de Nascimento Antiga), faz com que seus documentos comecem a ficar amarelados, e aí, por algum motivo, quando você é obrigado a apresentá-los às pessoas, elas, ao visualizá-los, ficam em dúvida se aquele “jovem” magro, com cabelos e sem óculos é você, realmente.
Também quando você já não entende os palavriados dos mais jovens, isto é um forte indício de que você está ficando um “pouquinho” idoso. Porém, ainda não é motivo para você aceitar convites a fim de conhecer clubes de 3º idade.
Aproximadamente aos 35 anos, você começa a receber os primeiros “tios” da sua vida, advindos daquelas crianças “flanelinhas” que lhe pedem uns trocados para limpar o pára-brisa de seu carro, nos semáforos. Cinco anos mais tarde, ao fornecer as horas, é a vez dos “teens” chamaram-no “tio”. O que dói é ser chamado assim por aquela garota que você estava “flertando” (“eta” palavrinha “véia”), ou melhor, você estava de “zoin” nela! Entretanto, para seu consolo, ser chamado “TIO” é melhor do que ser chamado “VÔ”, não é mesmo?
Bem, passando dos 40, seus dentes, os quais estavam acostumados a estraçalhar picanha, começam, numa simples mordidinha em um pudim, a se soltar. Veja, isso são coisas da idade, mas aos 40??? Já é demais, né?!
E por falar em dente, lembrei-me de um amigo que teve um problema de canal dentário (talvez devido à idade), e foi ao consultório de uma dentista. Na sala de espera, aguardando o momento para enfrentar o “motorzinho”, procurou uma maneira de enrolar o tempo, começou assim, a passar seus olhos nos diplomas da dentista, afixados na parede. Notou então que seu nome era, de algum modo, muito familiar, apesar de duas décadas e meia que ele não o pronunciava: Cristiane de Tal, a estonteante “Cris”, cobiçada por todos os colegas da classe. Este era seu nome!
Meu amigo já me havia confidenciado que, nos tempos de ginásio, “tinha arrastado uma asinha” pro lado de uma linda colega de escola, apelidada de Cris.
“Como será que ela está agora, depois de tanto tempo?” – essa sua introspectiva pergunta seria respondida após a sua chamada, pela auxiliar:
- O próximo!
- Pode sentar-se. - falou a dentista, de costas, selecionando os instrumentos de seu trabalho.
Ainda bem que ele se sentou, pois, ao virar-se, estava ela uma verdadeira “paulada”: sua pele de maçã cedeu lugar para uma cheia de rugas, olheiras horrorosas, seu corpo já não apresentava aquelas “curvas” de violão, etc. Bem diferente daquela monumental garota que conhecera no ginásio em que estudara, de codinome “Ernestão”.
Atônito, aquele meu amigo pensava: “Nossa!... O tempo é mesmo implacável! E o pior, é que é para todos nós! Só que, no caso da Cris, ele exagerou um bocado!” E, para disfarçar o espanto, começou a puxar um papinho com a “deusa de outrora”, a qual, atualmente, é apenas mais uma dentista.
- Estava eu olhando seu nome nos diplomas... Por acaso você não é a Cris que estudou no “Ernestão”, na década de 70?
-Sim, estudei o 1º grau naquele colégio, e foi nessa época. - Respondeu ela.
Ao que ele continuou a perguntar-lhe:
- Então... você não está se lembrando de mim?!
E fixando aqueles olhos cheios de “pés de galinha” no meu amigo, na tentativa de alguma lembrança sobre ele, respondeu-lhe:
- Não estou me lembrando muito do “senhor”, não!!!... O “senhor”, naquela época..., dava aula de quê???!!!