Comunicação e informação

Era sua primeira viagem.Tão longe de casa...Salvador!Muito mais que imaginara:povo lindo e bronzeado,filhos do sol,mar verde e quentinho,praias de águas transparentes e areias brancas,dias tão quentes,manhãs que começavam mais cedo!Café da manhã de novela:muito suco de laranja,tapioca,salsicha com ovos,frutas da estação,bolo de côco e biscoitos,pães,torradas,geléias.Vida de hotel!Era turista,estava ali para ser bem tratada,certo?O hotel ficava na Barra,perto do farol.Depois de quase 10 horas de vôo,atrasos,fazendo conexão em Curitiba,São Paulo,Brasília,chegou no hotel às 18:00 hs.Mais uma hora para se assinar a ficha(todos as dados da pessoa escritos em inglês,não sei nada de inglês,qual é?),esperar o camareiro organizar o quarto,pegar a chave, carregarem as malas e as acomodar no quarto,mas sem stress,afinal,sorriu,chegara na Bahia! Tomou um merecido banho.Jantou às 20:00,passeou pelos arredores do hotel,no calçadão na beira do mar,sentindo o cheirinho salgado que vinha na brisa, e ficou admirando as luzes da cidade.Voltou e foi direto prá cama,as 21:00.No outro dia tinha que acordar as 6:30,começariam os passeios.As 6:45 chegou o ônibus um pouquinho atrasado(alguém no outro hotel tinha esquecido o horário).Antes de ir para o tal local,o ônibus ainda pegou mais dez passageiros pelo caminho.O guia era um engraçadinho,falava sem parar,apresentava todo mundo"palmas para o fulano,que veio de..."contava detalhes da cidade e datas,num sotaque sem pressa.Enquanto falava,rebolava no corredor do ônibus.Era dançarino,sabia todos os passos,movimentos , palminhas e todas as músicas de axé ,que repetidamente foram ouvidas,uma após a outra,até a exaustão,por todos nós,pois ao chegarmos nos lugares ou barracas,se ouvia o mesmo CD...Depois de dois dias de "alegria" em grupo,chega!Já tinha feito todos os passeios obrigatórios no ônibus de turismo,agora queria liberdade, queria se aventurar!Ouviu falar da praia de Piatã."Vou lá,hoje!"Tinha acordado as 8:00"Hora de gente!",tomou seu café,voltou ao quarto e bezuntou-se de bronzeador (número 30),até atrás das orelhas.Pegou o essencial,

colocou numa sacola de palha.Óculos e boné,deixou a chave na portaria e encaminhou-se para a parada de ônibus.Falaram que o

que passava em Piatã fazia ponto ali.Era só saber qual era o número ou linha.A tal parada ficava meio distante.O sol das 9:00 já estava torrando,sentia a pele úmida,a alça da bolsa escorregava do ombro.Vários ônibus passaram por ela.Suava sob os óculos.Quase na frente do farol,achou a tal parada!Olhou em volta,nenhum outro passageiro para pedir informação.Viu um jovem na frente do farol,que esperava com uma máquina de fotografia na mão,enquanto outros dois acenavam para ele na praia.O farol ficava num terreno mais alto que o que ela se encontrava,numa espécie de pequeno monte.Aproximou-se um pouco,falou alto:"Ô moço,podia me dar uma informação,faz favor?"O rapaz nem se mexeu,sequer olhou em sua direção.Ela falou mais alto ainda,repetindo a pergunta:"Por favor,preciso de uma ajudinha moço...pode ser"Nada,nem uma piscadinha."Ô moço,estou falando com o senhor,pode me dar atenção?"Agora,mexia com seus brios,falta de educação era imperdoável em qualquer lugar!Qual era a dele?"Olha moço,obrigado por nada,viu?"Voltou para a parada,cheia de raiva,nem sentia mais o suor escorrendo nas costas.Uma outra pessoa na parada olhava enquanto ela se dirigia para lá.Era um senhor de cabelos brancos,camisa branca e levava um cesto,coberto com umpano muito branco.Provávelmente um ambulante,vendedor de doces,que iria em algum lugar trabalhar.Bom!Estava tão furiosa,era bom ter alguém para comentar o que tinha havido."O senhor viu só?O povo daqui é tão educado,e este rapaz ali nem sequer me olhou,só queria uma informação sobre o ônibus para Piatã...ele deu?Nem o vento!!Sujeito grosso!" É grosso não,dona!"repondeu o velhinho.Com a paciência dos anos e vividos e na simplicidade dos baianos,explicou,gentilmente,sem pressa:"O menino é surdo-mudo,desde que nasceu,não sabe?!"Ela sentiu o rosto quente,avermelhava de vergonha,com certeza!"É meu neto Tonho,está ajudando este pessoal de Feira de Santana,vieram conhecer o farol!"Ela,mais vermelha ainda,se desculpou,e explicou a situação.O velhinho continuou sorrindo:"Tem nada não,dona!Se desculpe não...hoje,quando voltar prá casa ,vou contar prá minha velha da senhora,com tanta gente na Bahia,a moça aí foi a única pessoa que conheço que pediu informação prá surdo-mudo!"E pegou o ônibus,ainda rindo.E ela continuou ali,na parada,sem saber que ônibus pegar!

Brigeth
Enviado por Brigeth em 28/02/2008
Código do texto: T879703
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