PALAVRIADO TOSCO.
Sempre gostei de acompanhar os jogos do Corínthians. Se não fossem eles televisionados, pra mim, não teria problema: ouvia-os pelo radinho mesmo! Quantos jogos desse meu time “altaneiro” ouvi com os melhores locutores do Brasil!... Escutei, pelo radinho, vários tipos de gols: de cabeça, de bico, de peito, de canela, de bicicleta, de mão... e até gol contra!!!
Sabe, quando criança, pensava que a palavra “gol”, gritada a plenos pulmões por aqueles maravilhosos locutores, e desta maneira:
“GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL”
era a maior palavra da língua portuguesa.
O futebol traz, para mim, boas lembranças. O Campeonato Paulista de 1977, por exemplo, vendo o “Coringão” conquistá-lo, por um a zero, contra a Ponte Preta, naquela noite de 13 de outubro, faz lembrar-me, saudosamente, e, com lágrimas nos olhos, do Seu Zé. Por sinal, vendo-o, naquela ocasião, descer a minha rua, com a bandeira do “Campeão dos Campeões” enrolada em seu corpo, decidi, no ápice dos meus quase 14 anos:
“A partir de hoje, serei Corintiano para sempre!!!”
Daí então, meu irmão e Tio Antônio entraram nessa barca, que, de vez em quando, é furada, mas isso “faiz parte” de quem escolheu a condição de ser “sofredor”. E ainda com muito orgulho!
Ainda hoje consigo atrair outros desavisados a ser também corintianos, ter o sentimento apaixonado, inexplicável e incompreendido, sendo quase uma religião, por um clube de futebol. Minha última vítima, por enquanto, é minha esposa, Priscila. Quem sabe, a próxima é você, amigo(a) leitor(a)?!
Bom, depois dessa minha “escolha” foram muitas excursões ao Morumbi: vi o Timão ganhar, também vi, prometendo “nunca mais voltar”, o Timão perder... Isso tudo porque eram quatro horas de viagem de ônibus para assistir ao jogo, e mais quatro horas para voltar, fora o gasto com ingresso, comida, bandeiras e rojões, e “depois o Corínthians ainda perde, pô?!!!” Mas eram apenas palavras de momento, pois na outra final de campeonato que o “Todo-poderoso Timão” chegava, lá estávamos nós, todos roucos, gritando como doidos varridos, muitas vezes debaixo de chuva e frio, na tentativa de “empurrar o time pro gol”.
Bem... voltando à época em que ouvia apenas o radinho (é mais econômico), já um pouco mais maduro, arriscava-me somente em trocar as pilhas dele e abrir uma cervejinha ao lado, ouvindo, com a “certeza” de mais uma vitória do meu time do coração, a qual quase sempre não acontecia. “O juiz é um ladrão!”
É... “o juiz é um ladrão, não é culpa do meu Timão!”
Todo esse tempo faz-me lembrar de um jogo que estava ouvindo pelo rádio:
“Estamos aqui, no estádio Alfredão...” – gritava o locutor. E, continuando ele:
“Começa o jogo... Bola pra frente, que atrás vem gente... E passa pra um... e passa pra outro... e pro outro... Ai, meu Deus do céu!!! Chega junto o zagueirão quebrando tudo, mostrando os cravos da chuteira na coxa do centro-avante... Nossa!!! O juiz mostra cartão vermelho pro zagueiro, no primeiro minuto de jogo... Vai pro chuveiro mais cedo, meu filho!!!...”
Em seguida a essa “quase tentativa de homicídio”, o pau come solto, e foi parar até na torcida!!!
A situação ficou tão preta que a polícia chegou a “gastar” o cacetete nas costas dos briguentos mais exaltados!
Depois dos ânimos mais serenados, menos os do zagueiro expulso, na saída deste de campo (saída esta mais lenta do que tartaruga aleijada), nervosamente gesticulando muito, um destemido repórter da rádio, desafiando os impulsos revoltosos daquele “quase homicida”, perguntou-lhe:
- O que aconteceu??? Por que a expulsão???
E continuando eu a ouvir o radinho, respondeu o zagueiro dentro dele, e ao vivo:
- “Esse juiz tá ESTRUPANDO nóis no jogo”!
Isso mesmo, com esse erro de pronúncia e, ainda por cima, no gerúndio!!!
Então o repórter, indefeso, devido ao descontrole da situação, saindo de perto do nervoso zagueirão, diz:
- É... ele tá muito nervoso! Desculpem-nos os ouvintes, mas vai fazer o quê, né??? – tentava amenizar aquele vocabulário tosco “fornecido” por seu entrevistado.
Logo depois, já mais calmo, o desbocado zagueiro, percebendo o erro que cometera, quando no calor daquela inquirição, procurou o mesmo repórter, no intuito de “arrumar” sua desgringolada afirmação.
E ainda ao vivo, “conserta”, aos microfones da rádio:
- Eu quis dizer que o juiz “tava ESTRUPANDO nóis”...
Mas, veja bem, “ESTRUPANDO”.... no bom sentido!!!