MULÉ DE VERDADE

Pópará. Das vez que te pedi tu não me atendeu, tu ficou de rabo de zóio zombano sem pará. Tonce pare é já.

Das vez que ocê bateu as porta, achei que num vortava era mais. Que nada! Tá aqui de novo, com as mesma cunversinhas, tagalerices de bar. Vorta lá! Vai vê se tem neguinha que atura tua machice de brejo. Tem não. Tem não.

As vez ocê acha que tô de brincadeira. Num tô. Quer saber as verdade? Não acha é nunca mulé trabaladera que nem tua nega aqui.

Todo dia de quarta, tô passando ropa prá fora, das sete inté as treis. Não pode ser dia de terça ou de quinta; sô mulé pogramada pra passar toda quarta. Dia de terça e de quinta tô pra drento da casa da patroa, nas faxina. Todo tempo é Ezeunira passe o pano aqui...Ezeunira limpe as virdaças! Pra trazê a grana que tu gasta com as pinga? Com as buneca? Tô fora!

Tu fala que o jeito deu falá é medonho, às vez eu penso em fazê escola, penso que divia lê mais...mas só penso, porque dá uma lezera djoida; causs de quê levanto cedo, né?

Inté gosto demais da conta docê e penso que valia uma pena falá assim que nem Claudircélia, fazê coisas prá deixa ocê menos turculento.

Outro dia inté comprei daquela colônia que deixa ocê com vontade de beijá meus cangote, usei de três parcelas, mas já passou cinco domingo e ocê ficou grudado nas pegadinha do Faustão...nem pôs reparo no chero. E tem mais, esqueceu? Domingo é que nem as quarta...não pode fartá! Ocê fartô! Fartô feio! Te descurpei. Nega boa que sô.

Daí tu abre essa boca prá dizê maldade, prá dizê que meus decote é pra causá ciúme? Que aquele nego que tu chama de bródis vem aqui só pra fica de zóio?...Causs disso só passo o dia pensano: “Vô fazê loucura” “Vô fazê loucura”...quano vejo, passa uns minuto, tô dobrano tuas ropas na gaveta, tchudo de novo. Sabe o quê? É manhia de limpeza, de organzação, é vício que nem o teu de bebê até invadi as mardrugada. E tamém, é falta das coragem.

Má agora, num tem jeito. Já carculei, vô deixa polenta no forno (que é procê não xingá minha mãe), e sumi pruns bons dias.

Num dianta vir atrás, num vô deixá os rastro. Num dianta procurá por Eldicreuza, Gernival ou Creonilce...eles nem irmaginam pronde fui. Wildnéia vai achá que endoideci, vai achá que esbarrei noutro nego que não valia nada. Pobrema que tu vai te que resorvê, causs de que ela é tua irmã, e cunhada das pior ispécie.

Tô resorvida! Tô com as muchila escondida debaixo das partilera. Vai sê amanhã cedinho...quando tu estiver no meio do ronco. E óle que falo muitcho sério! Tô avechada de veiz. Percisa de me dá os valor, de uma veiz por todas!

Fique aí, e não esquece aquele ditado: “Mais valhe um pássor nas mão do que dois voano”.

Té uns dia desse.

Tua Ezeunira

(só procê meu nego, a Zezé)

Mirea
Enviado por Mirea em 24/02/2008
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