Samba de Raiz
Era uma dessas sexta feira, já não lembro bem a data, mas todas as vezes que minhas lembranças são invadidas para tais fatos, ponho-me a rir, onde quer que eu esteja, sendo assim, resolvi fazer um esforço para resgatar esse momento e compartilhar com meus queridos e pacientes leitores:
Na verdade, nem sei mesmo se isso ocorreu numa sexta-feira, mas sei que por volta de umas dezoito horas, fim de mais um expediente, um amigo me convida para assistirmos um pagode de mesa, no bairro de Madureira, em principio, logo retruquei:
- Madureira! Porra você está louco! Vou me deslocar de Laranjeiras para Madureira e depois para...? Ele insistira.
- É pagode de mesa cara! Aqueles sambas da época, cantados por, Lamartine, Jovelina, Monarca, Cartola e etc...
Pronto, vagabundo que sou, foi o suficiente, lembro-me da última pergunta que fiz:
- E a cerveja? – É geladíssima. Garantiu-o.
- Já é. E lá fui eu para Madureira, no caminho proseamos sobre tudo, mulher, samba, planta, estabilidade, salário, religião e política, só esqueci de conversar, como iria fazer para retornar para casa depois do pagode.
- Cassete! Vou ligar para casa, para avisar, senão ela vai ficar preocupada (aqui pra nós, essa mentira nunca colou, mulher nunca ficou preocupada, elas ficam é putas da vida mesmo, quando a gente manda esses perdidos nelas), meu celular havia descarregado e a bateria (outra coisa que elas também não acreditam) tinha descarregado, como estava pensando em não demorar muito, relaxei e fui incorporando no caminho o espírito do ambiente, ao chegarmos, acomodamo-nos, pedimos uma gelada para quebrar a formalidade do momento, enquanto o samba esquentava, como bom observador que sou, esqueci do tempo e do relógio, que parece fazer uma espécie de sacanagem com a gente, todas as vezes que estamos na farra e que esquecemos dele, pronto, o safado converte cada uma hora em duas.
- Cassete!
- O que foi agora? Argüiu meu amigo.
- Porra! Cara já são duas da manhã, e agora?
- Calma cara! Disse ele, eu lhe dou uma carona.
- Não cara! Não precisa me levar em casa, basta você me deixar na Leopoldina, que por lá circula ônibus a madrugada toda.
- Beleza! Encerramos garçom a saideira (nome amaldiçoado que transforma toda última cerveja em primeira).
- Cassete! Vamos logo embora cara.
- Vamos, vamos matar só essa do copo.
- Então mata logo, senão quem vai morrer sou eu.
Ele chegou rapidinho a Leopoldina, despedi-me e fiquei aguardando o buzão e nada, olhava o relógio meio doidão e lá estava o canalha me sacaneando de novo, o desespero foi tanto que resolvi fazer uma promessa para são longuinho:
- São Longuinho, São Longuinho, se meu buzão passar eu dou três pulinhos.
Quatro horas da manhã e finalmente me passa um táxi fazendo lotada, não pensei duas vezes, praticamente me joguei dentro do táxi do cara e disse:
- Só saio daqui morto, vivo, só na porta de casa. O taxista riu, pegou o restante das pessoas que estava no ponto e tocou...
Quando estava me aproximando de casa, resolvi fazer uma recapitulação das prováveis desculpas que daria certo:
- Passei mal, meu amigo passou mal, a sogra do meu chefe morreu.
O elevador abriu a porta e eu apertadíssimo que estava louco para dar uma mijada, meto a chave na porta com tudo e corro para o banheiro sem perceber que a General estava bem sentada no sofá. Depois de aliviado...
- Que susto, você sentada no sofá uma hora dessas, perdeu o sono?
- Não. Você sabe que horas tem?
- Não, mas deve ser meia-noite. (me fiz de bobo).
- Meia-noite é o caralho, são quatro horas da manhã.
- Mas já! Fiz uma cara de surpreso e sempre olhando para o relógio como se a culpa fosse dele.
- Posso saber onde o Senhor estava até agora?
- Quem eu?
- Não, minha Mãe, disse ela. (Nessa hora nem pense em sorrir).
- Claro amor.
- Amor é uma porra.
- Tudo bem, eu posso dizer, mas já vou lhe dizendo, você não vai acreditar.
- Experimente...
- Estava assistindo um samba de raiz da melhor qualidade com um amigo.
- Samba de que?
- Samba de R a i z. E antes mesmo que pudesse, falar melhor sobre essa tal raiz do samba, Paulinho da Viola, Monarca e etc... Ela correu para o quarto e bateu a porta com tanta força, que quase me estoura o tímpano, até tentei reconquistar meu lado da cama, pondo a boca na fresta da porta e dizendo:
- Amor, não tem nada haver, você está imaginando bobagens. E lá de dentro do quarto ela berrou:
SAMBA DE RAIZ É O CARALHO.
SAMBA DE RAIZ É A PUTA QUE LHE PARIU!
E assim meus caros leitores naquela noite dormir no sofá, sem lençol, sem travesseiro, além de ficar uns quinze dias sem pegar na "perseguida", ainda bem que tenho minhas mãos perfeitas e uma mente bem fértil e descontei tudo na Camila Pitanga, mas bem feito para ela também que ficou sem saber o que é um samba de raiz.
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