A suruba da semana passada
O Quinzeprastres era uma figura!
Dizia uns trecos que, falar a verdade acho que nem ele mesmo acreditava. Tipo”essa noite dei cinco sem tirar de dentro, a Suelen vive enchendo meu saco ,quer porque quer amigar comigo” E olha que a fulana era de fazer cego enxergar. Tipo da mulher que se o sujeito fôr pego em fragrante delito pode até argumentar com a patroa:- Benhê, se eu afino dum mulherão desses vão me chamar de viado o resto da vida! E de repente até cola.
Resta ver que dois vereadores do mesmo partido viraram a cara um pro outro por culpa exclusiva dela e quase trocaram de filiação partidária. Más línguas afirmam de mãos juntas que o viceprefeito paga uma mesada prela com dinheiro público e um industrial( se revelo o nome do felizardo tô fu) deu de presente uma casa em Itanhaem. Com mobília e tudo!
Mas o Quinze volta e meia falava essa barbaridade. Bem, até podia ser. Que tem mulher que tem raiva da miguelita e solta ela pra qualquer Zé Mané.
Mas agora, sair com essa de que fez uma puta gozar, foi demais! E na zona da Cotinha, ainda por cima?
Claro que zoamos! Devia estar gozando na sua cara, isso sim! E achando que a gente era uns bestas quadradas. Mas como insistia que o fato tinha acontecido, que a Samantha tinha gozado mermo,e piriripororó, perguntamos como podia ter tanta certeza.
- Ela ficou o tempo todo chupando o dente e fazendo Rurru, rurru, rurru! Se isso não for gozar. . .
- Para com isso, parceiro! A mulher tava imitando macaquinho procê!
Pois não é que o zóio torto participou de uma suruba no final de semana!
Engraçada essa vida! Tem uns carinhas até bem apessoados que não catam nada. Carro do ano. Carteira cheia. E o Quinzeprastres se torna membro efetivo dos surubáticos da cidade?
Quem contou foi o Ditinho:
“ A gente foi pra Bauru fazer uns rolos . Ganhar uns trocos por fora pra ajudar na despesa. Mas eis que de repente( o Ditinho tinha essa maldita mania de usar frases de efeito) a gente num boteco perto da rodoviária tomando umas cervas nem tão geladas assim, quando apareceram umas cinco fulanas distribuindo convites para uma festinha.
Dez paus por cabeça, com direito a duas cervejas! Sem chance de não ir!”
- E foi boa a festa?
“ Caraca! Boate lotada ,mulheril saindo pelo ladrão, uma mais gostosa que a outra. E todas com aquele modelito básico.”
- Que modelito?
“ Puta puta! Sacumé, roupa de couro, trancinhas balançando, pintura até no umbigo, tiara enfeitando as melenas.” ( como disse antes o Ditinho era doido por um fraseado esquisito).
“ Mal entramos uma loiraça tetuda agarrou o Quinze, tascou um beijo de boca estalado, deu um apertãozinho de leve nas partes sensíveis dele e começou o enrosca-enrosca.”
- E você?
” Ah! Meu! Dei minhas encoxadas nas que apareceram pela frente, umas apalpadelas de tetas, uns beijin de língua, uns. . .
Foi aí que o Rique apareceu no pedaço, uma banoite pra todos e ficou na escuta do causo do Ditinho.
Xô explicar: o Rique é de Bauru. Conhece todas as manhas. Todos os botecos. Todas as mumunhas da cidade-sanduiche.
- E quando foi isso, Ditinho?
- Semana passada!
- E onde era a tal boate?
- Lá pros lados do Zoológico.
O Rique deu uma coçada na barba rala, um sorrizinho sacana, uma conferida no causeiro antes de prosseguir:
- Um sobrado vermelho? Piscina no fundo? Um monte de plantas na varanda?
- Assim mermo! Conhece?
Perguntinha besta: claro que ele conhecia!
Foi quando começou a rir sem parar. Todo mundo estranhando o porque do súbito acesso risal.
- E ficaram até o fim da festa? – perguntou, se recompondo.
O Ditinho explicou que não. Até o fim, fim mesmo não! Lá pelas quatro da manhã, grana curta para programas, arrastou o Quinze pra fora, pegaram o primeiro táxi que deu as caras e catchuff! Rumaram para a rodoviária.
- Ah bom! Então não comeram ninguém?
O Ditinho tentou ser o mais claro possível:
- Comer que jeito, meu cumpadi! A grana mal dava pro táxi e pras passagens de volta.
- Inda bem!
- Porque inda bem? A gente ia se empanturrar de mulher!
- Mulher?
- Claro! Com todas aquelas zinhas sobrando, impossível não comer uma!
- Rapais, lá só dá traveco!
E explicou do seu jeitão, enquanto o Ditinho não parava de cuspir no chão:
- A única mulher mesmo que tem por ali é a velhinha que vende amendoim.
E é claro, deu uma pá de cal no assunto:
- E ela tem pra lá de setenta!
Uma explicação: o apelido era esse por causa dos olhos bem separados um do outro. Parecia que olhava os dois lados da rua ao mesmo tempo.