O nascimento do "Chupetinha"
Ele nasceu dentro de uma família de classe média alta e era filho único de pais cultos, sábios e preparados para educar a criança que nascia.
Sua infância ocorreu repleta de todas as regalias que toda criança tinha direito. Brinquedos caros e educativos, boa alimentação, tudo dosado dentro da preocupação que os seus pais tinham de transformar aquela criança em um grande homem.
Até na escolha do nome eles foram influenciados pela esperança de que ele viesse a ser um político bem sucedido, um doutor em alguma coisa, um grande homem enfim.
Deram para ele o nome de Adalberto Araujo Peixoto, como nome de batismo.
Tanta dedicação na educação daquela criança fez dele um adolescente com gosto pelo saber, consciencioso de seus deveres e da necessidade que tinha de recompensar seus pais.
Foi um bom aluno desde os primeiros anos escolares e tornou-se um adolescente aplicado e dedicado às coisas boas que tinha aprendido em seu lar.
No colégio sempre estava entre os primeiros destacados em todas as matérias e se esforçava em ser sempre o melhor. Quando o terminou, ingressou em uma conceituada faculdade e deu início à formação que era tão sonhada por seus pais. Participava socialmente das festas com os outros universitários, mas não deixava de se entregar de corpo e alma a seus estudos.
Na última semana do terceiro ano, conheceu em uma festa de despedida a mulher por quem se apaixonou.
O nome dela era Salete, uma garota bonita de coxas grossas e bundinha arrebitada que conquistou o seu coração assim que ele a viu. Sua testa era larga, sob os cabelos escorridos, o que lhe dava um ar de sobriedade e sabedoria. Seus olhos eram verde-claros, seu sorriso angelical e a boca carnuda e vermelha que naquela mesma noite ele soube ser saborosa e suave em seus beijos.
Era tudo o que ele esperava de uma mulher e foi facil com a sua ajuda viver um romance feliz e compatível com as suas obrigações.
Continuou sendo um ótimo aluno, cheio de objetivos de vida futura, só que agora com mais afinco pois era prazeroso tê-la ao seu lado em tudo o que fazia.
Estudavam, passeavam, assistiam videos de mãos dadas e rostos colados e comiam pipoca no mesmo prato.
Eles viveram intensamente aquela fase e se prepararam para um futuro feliz. Juntos eles sempre estiveram por todo o tempo que Adalberto levou para terminar sua faculdade e finalmente o sonho dos dois foi realizado.
Tanta luta, tanto esforço trouxe consigo suas recompensas. Por ter sido o formando que teve as notas mais altas em seus exames, recebeu várias e tentadoras propostas de trabalho.
Finalmente tinha como pensar em seu futuro com a mulher que amava. Poderia casar-se com Salete e foi o que aconteceu.
Ele casou-se e se mudou para a cidade de Campinas, onde ficava a industria que o havia contratado. Lá ele tinha um emprego de futuro e uma casa confortável onde era feliz com Salete, agora conhecida por toda a sociedade campineira por Sra. Salete Peixoto.
Tudo era um mar de rosas até que ela engravidou e foi ai que começaram os primeiros temores na vida de Peixoto.
Campinas, como todos sabem, é famosa pelo grande número de homossexuais que nela vivem. Dizem, não sei se é estatística ou maldade de quem fala, que para cada quatro crianças que nascem em seus hospitais, três são viados.
Isso fez com que Peixoto se enchesse de receios em ter um filho campineiro.
Ele levou Salete a uma conceituada maternidade em uma cidade vizinha e providenciou para que ela tivesse a assistência pré-natal e o seu parto lá. Com isso, ele acreditou ter resolvido o problema e eliminado a ameaça de ter um filho com grande chance de nascer "bicha".
Tudo correu bem, até a semana em que Salete completava o seu sétimo mês de gravidez. O Peixoto estava nesse dia em seu escritório, na industria em que trabalhava, quando a sua secretária entrou, sem ao menos bater na porta e falou ofegante:
- Dr. Peixoto me desculpe, é que sua esposa passou mal e foi levada para o Hospital Santa Clara. Ligaram de lá e disseram que ela teve um parto prematuro.
- Meu Deus, mas que desgraça, ele falou desesperado.
-Não houve desgraça nenhuma, doutor, ela disse. Disseram que tudo correu bem e que o o senhor é pai de um lindo menino.
- Mas que desgraça, tornou ele a dizer e saiu correndo para o hospital.
Quando lá chegou, foi atendido por um enfermeiro moreno e forte que falou melosamente:
- Pois não senhor, posso ajuda-lo em alguma coisa?
Em um hospital de Campinas só podia ser um enfermeiro viado, o que deixou o Peixoto desesperado e mais nervoso. Gaguejando ele falou:
- Mi... minha esposa, ela passou ma... mal e ve... veio pa... para cá. Disse... seram que ela... la te... teve um pa... parto pre... pre... prematuro.
- Então o senhor é o Dr. Peixoto, disse o enfermeiro "bicha". Sim, sua esposa está aqui. Tudo correu muito bem e o senhor é pai de uma criança linda. Aquele que está no último berço é o seu filho, o "Chupetinha", e apontou para um menino forte e sadio que dormia um sono calmo e angelical.
Peixoto, indignado e ofendido, falou:
- "Chupetinha", que liberdade é essa rapaz? Aquele menino é meu filho e eu exijo que o chame pelo nome. Eu não admito tanta falta de respeito.
- Doutor, ele é um menino chorão e escandalozo, disse agora o enfermeiro revoltado e magoado com a reprimenda. Se o senhor não acredita, vai lá e tira a chupeta que eu coloquei no "rabinho" dele para ver a algazarra que ele faz. Vai lá, vai. Tira prá ver.
E foi nessa hora que o Peixoto começou a chorar desconsoladamente. Seu filho homem, aquele em que tinha depositado todas as suas esperanças nasceu campineiro, nasceu viado.