A BARATA !

Eu vejo nos cantos do meu quarto torto,

A barata desfilante e asquerosa;

Pretendo passear pelo meu corpo,

Vai seguindo indecisa e temerosa.

Eu posso mais que ela, sei que posso !

E num ato de bravura, hei de matá-la !

Eu procuro uma chinela ou algum troço,

Só não vou pisá-la que ela estala !

Mas o mundo se tornou muito pequeno

E todo sentido de espaço se perdeu;

Com cautela, pego o frasco de veneno;

Não há lugar para nós duas: É ela ou eu !

Ao perceber a intenção desse meu gesto,

Ela corre atrevida para mim

E de rajadas de veneno, eu a infesto

E vou manter minha coragem até o fim !

E observo meio pasma o grande efeito

Que no rótulo do inseticida está descrito;

Ofegante,eu fico olhando do meu leito,

Ela dá um sobressalto e eu dou um grito !

Vai passando mais um tempo e ela tonta,

De costas, agoniza e rodopia

E eu atenta, aos poucos me dou conta

Que ela veio do esgoto pela pia ! ...

Num instante,ela pareceu-me estar morta ...

Mas de súbito estremece-lhe as antenas

E os dedos do pavor me indicam a porta

Mas não fujo e resisto a duras penas !

Agora, ela é um bicho cheio de pernas

Estagnadas e viradas para cima,

Destinada às podridões eternas;

Onde o lixo se transforma em ruína.

Finalmente, depois de um longo tempo

De asco,de terror de toda sorte;

Eu respiro aliviada do tormento;

Acreditando nesta lei que é a do mais forte !