Beiçola, o Don Juan
Quando o Beiçola se enrabichou pela Mirian não teve quem não imaginasse que ia dar budun na graviola.
O Beiçola, nome de batismo Marcos Devail de Souza, tinha uma lojinha de bordados na esquina da José Custódio com a Presidente Kennedy. Justo no caminho da Mirian rumo ao trampo
Na cara que não era atração física coisa nenhuma! A Mirian até que merecia uma olhada de trevés mas não era o que se podia afirmar”que mulheraço”. Ou do tipo que neguinho abandona a família, dá um chute no tá-certo e desemboca na trilha do bem bom, só por causa dumas boas trepadas.
Bonitinha. E só. Como diria o Ranulfo, filosófo de plantão, eternamente no Bar do Canguru tomando suas birinaites: Não é daquelas que a gente torce pra ninguém descobrir que traçou. Mas tá ali! No risquinho.
Só podia ser vingança!
Ou não! Que o Beiçola não era muito de escolher. Uma das levadas ao matadouro, mais desbarrancada que a maioria, quando a turma zoou legal, respondeu:
- Mas as tetas dela pareciam pera!
- Pera? – e desconfiados da informação: Aveludadas?
- Não! Peraqui! – e colocou a mão na altura da barriga.
Acontece que a Mirian era mulher do Carlito. Dr. Carlos do Nascimento Neto, advogado de responsa e ganhador da causa que o Beiçola tinha impetrado contra a Prefeitura por causa dumas quireras trabalhistas do tempo que era barnabé. Uma merreca de tres paus, tres paus e meio que ele achava que tinha direito. Apesar de todos os da leva bochicharem o contrário, pois ninguém tinha levado nada.
Pose de macho aqui, olhar 43 ali, psius discretos acolá e nada da dona dar um teco, um poquito só de bola pro garanhão de araque. E quando os amigos deram um toque que se o maridão, futuro cornélio descobrisse, ia cobrir ele de pancada, só o que fez foi rir e comentar entredentes: Se ela fosse dar com a língua nos dentes, já tinha! E arrematou: Nunca vi mulher que não dá! O que tem é mulher mal cantada!
Sucedeu que, acreditando nas próprias frases, caiu matando em cima da coitada da Mirian. Tadinha, o que queria era só atender seus clientes na financeira, assistir um ou outro filminho erótico na companhia do maridão, jogar sua tranca nas noites de sábado com as amigas e terminar de pagar o carro comprado em 60 meses. Nada mais! Lá ia querer emoções desenfreadas numa altura dessas do campeonato?
Mas o Beiçola era teimoso. E cricri.
Mandou bilhetes. Flores. Música na rádio. O escambal!
E não é que a chochinha capitulou?
Talvez fosse carência, que o Carlito não era muito do lar não. Talvez fosse tesão reprimida, que o Beiçola não era assim um tipinho de se jogar fora. Talvez fosse burrice, que todos sabiam que o cara era de comer e espalhar por todo canto depois que cansava da zinha.
Só podia ser a terceira hipótese!
O telefonema que o Don Juan recebeu dizia assim: “ a gente se encontra no Xodó hoje à noite. Te espero às nove na suíte presidencial. Vamos aproveitar que meu marido foi para São Paulo e só volta amanhã de tarde.” Isso lá pelas quatro da tarde!
Beiçola se arrumou nos trinques. Fez a barba. Tascou um perfume importado no corpo todo. Comprou uma cueca sexy na Delirius. Comprou uma cartela de Ciallis na farmácia do Zelão. Enfim, se preparou nos mínimos detalhes.
Oito e meia ligou o Uninho( que havia mandado lavar às pressas) e tchicabum, pegou estrada. Dez pras nove tava lá, no toco.
Pagou os setentinha na portaria.
Entrou.
Mirian estava sentadinha, linda dentro do possível, na beira da cama. Uma música suave amenizando o ar. “ Desta vez me dei bem.” Pensou o Beiçola, mas antes que pudesse dar um beijinho de boas vindas, um apertãozinho nas tetas miudinhas, um xamego beijil na nuca da musa, um discreto“oizinho, meu amor”, quem me entra porta adentro, acompanhado de dois guardaroupas? Quem? Quem?
Pois é! Ele mesmo! O pseudo cornélio.
Bem, não posso entrar em detalhes, porque este conto não suportaria tanta violência nem baixaria. Só posso contar que teve tapas estalados; filhasdaputa a granel; torções de braços; cuspidas na cara e um vibrador tamanho GG, com a Mirian dando sugestões. Uma pior que a outra.
É só usarem a imaginação!