NEM TUDO QUE RELUZ É OURO

Na manhã de quarta-feira de cinzas, estava lendo o jornal, quando Tiana, à empregada, entrou na sala informando-me que tinha um senhor querendo falar comigo.

Mesmo não gostando de ser interrompido quando estou lendo o jornal, mandei que trouxesse o dito senhor. Fiquei surpreso, pois, era o meu vizinho e amigo Clemente, e embora morássemos próximo, há muito tempo não nos víamos.

Ele disse-me que não tinha dormido. Passara a noite em claro e, estava muito preocupado.

Relatou-me a seguir:

Meses atrás, assim que entrou na cozinha da sua casa, a empregada uma curvilínea morena de 22 anos, mulata fornida, de dentição perfeita, sorriso arrebatador, ancas largas e sadias, tomou um escorregão e foi por ele amparada.

A morena de nome Rita, ficou caída de costas nos braços do meu amigo Clemente. Devo dizer que o meu amigo é um senhor de 50 anos, idôneo, e respeitador. Não é dado a “galinhagem”. Mas continuemos..

No exato momento do providencial abraço, dona Heliodora, sua mulher, -uma gorda portuguesa de temperamento explosivo-, também entrou na cozinha e viu aquela cena “romântica” e que dava margem a dúbia interpretação.

Lógico que “Quelé” se explicou com a sua consorte, conseguiu evitar que a Rita fosse despedida, mas ficou estremecido com a esposa lusitana. Não se falaram mais.

No domingo com toda a família reunida, os quatro filhos casados e demais esposas, dona Heliodora contou a seu modo o ocorrido.

Na versão da mulher, o velho Clemente estava agarrando a empregada.

Os filhos condenaram a atitude do pai, mas somente na frente da mãe. Assim que ela se afastava, eles davam risadas e faziam pilhéria com o pai.

Três meses depois, a morena Rita, mostrava-se com uma “barriguinha” de grávida e apresentou aviso-prévio, informando que deixaria aquela casa em alguns dias.

Torna-se necessário esclarecer que a moça tinha namorado e estava de casamento marcado. Mas tal fato não amenizou a situação do meu amigo Clemente.

Novamente a temperatura ferveu no lar de Clemente e Heliodora. Havia agora a suspeita quanto à paternidade do rebento. A esposa lusitana afirmava com toda certeza que Clemente era o pai. Já se falava em divórcio. Nova reunião da família e com muito custo os filhos conseguiram serenar a ira da mãe.

Alguns dias depois, Rita deixava a casa e de mala e sacola na mão caminhava tranquilamente pelo centro da cidade com destino a casa do namorado.

Clemente passou de carro e notou a morena carregando mala e sacola além do estado “interessante” em que se encontrava. Parou o carro e lhe ofereceu uma carona. Ato digno de elogio. Rita, sorridente entrou no carro aliviada do incômodo de carregar mala e sacola.

Mas o nosso herói deu muito azar. Dona Heliodora encontrava-se dentro de uma loja na companhia de sua filha mais velha e indignada a tudo observava.

Hoje Clemente está dormindo no velho e roto sofá da sala.

Dona Heliodora já ajustou advogado e conta com total apoio das filhas.

RONALDO JOSÉ DE ALMEIDA
Enviado por RONALDO JOSÉ DE ALMEIDA em 10/02/2008
Código do texto: T854107
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