A CAIXA MISTERIOSA

Na verdade, essa estória me foi contada por um amigo e eu achei muito engraçada e ao mesmo tempo, muito útil para mostrar como as pessoas se enganam sobre o conceito que os outros têm sobre elas.

Um pregador protestante que já completara o jubileu de ouro de seu casamento e de ordenação como ministro evangélico andava encasquetado com uma caixa que sua mulher nunca abriu em sua presença e que era protegida por um cadeado muito seguro.

Certo dia, aproveitando que a esposa viajou com as senhoras da igreja para um congresso feminino, o pastor pegou aquela caixa e resolveu abri-la, pois sua curiosidade estava aguçada demais. Achou a chave da caixa na gaveta da cômoda, enrustida numa caixa de óculos.

De início, a voz da consciência o acusou, pois não ficava bem invadir a privacidade da esposa, por outro lado, ele contrapunha argumentos de que o errado era a mulher com quem mantinha um casamento tão longo, ocultar-lhe alguma coisa. Não deu outra, colocou a chave no cadeado, respirou fundo e girou vagarosamente a chave antes de removê-lo.

A caixa, na verdade era do tipo baú, ou seja, com a parte da caixa unida à tampa por meio de dobradiças. Ele pegou na alça  do baú e puxou-a até saciar sua curiosidade, aliás, a curiosidade passou para o misto de espanto e frustração.

A caixa estava repleta de moedas antigas e recentes, algumas já nem tinham valor, por terem saído de circulação, e, para complicar ainda mais, havia meia dúzia de ovos de galinha caipira  sobre as moedas.

Aquilo parecia mais um enigma de magia negra do que qualquer outra coisa. O pastor fechou novamente a arca e cuidadosamente a recolocou em seu lugar primitivo  para não despertar suspeitas. Quando sua mulher retornou do congresso, ele começou a pensar que não era honesto da parte dele esconder o seu ato, aliás, havia ensinado a tantos cônjuges a serem leais entre si e não poderia cair naquela do “faça o que eu mando e não o que eu faço”. 

Planejou um momento para uma conversa franca.

Meu bem, sempre fomos fiéis uma ao outro, por isso, quero que você me escute e me perdoe. Na tua ausência não contive a minha curiosidade e abri aquela caixa que você sempre guardou a sete chaves, disse ele, com a face enrubescida.

A mulher sorriu e respondeu: ___ Não tem importância, mais dia ou menos dia, eu sabia que você acabaria descobrindo.

Responda-me uma coisa, disse ele com a voz de extrema curiosidade: ___ O que significam as moedas e aquela meia-dúzia de ovos dentro da caixa?

A mulher ficou meio desajeitada, mas observou: ___ Você quer mesmo saber?

Meio impaciente ele bradou: ___ Lógico, fala logo vai!

___ Bem, os ovos são os sermões ruins que você pregou durante todo este tempo.

O homem não cabia em si de tão contente, pois afinal de contas, em cinqüenta anos como pregador e só tinha seis ovos na caixa, era um índice mais que bom.

___ Mas, e as moedas, são tantas que eu quase não podia com a caixa?

___ Ah meu bem, as moedas são resultantes da venda dos ovos sempre que completavam uma dúzia.