...como não perder os dentes...

*dener versiani köger

Nos escritos de hoje, dissertarei acerca de um sofrimento atroz, uma penúria ou como diria Dedé do Totora; é uma clamura e uma gemura. Conclamo-vos à famosa dor de dentes. Tempos passados já havia descrito a respeito da origem das dores. Mas esta?

Um meu colega de faculdade, Ten. Alberto, uma vez , me perguntara qual seria a pior das dores. Veio-me de estalo; A dor de dentes e a de pagar as contas, esta moral e a aquela física.

Pois bem, conforme o combinado, passo a descrever sobre a terrível dor de dentes.

Quanto sofrimento havia naquela época. Lembro-me que não havia estes tais antibióticos e antiinflamatórios. Só mesmo os medicamentos manipulados na Farmácia de Mario Veloso, aliás, eu sempre ficava por lá sentado com meu pai - Piloto – e Ítalo Camisasca, a ouvir os causos dos mesmos. Também não entendia nada.

Voltando à dor de dentes ,quando o mesmo cismava de inflamar, era coisa mais linda. As pessoas saiam rua afora com a boca mais parecendo que tinha uma bola de pingue-pongue pelo lado de dentro e, de metro em metro dava uma cusparada, mais ao estilo assopro. Dizem que devido a estas inflamações muitos já foram até prá cidade dos pés juntos. Credo.

Aqui em Montes Claros havia àquela época um dentista prático chamado Antero Ribeiro. Atendia em um sobrado bem ali pelos fundos Matriz. Não tão raro, ao entorno de seu consultório era de costume encontrar cuspe e sangue esparramado, imaginem a ansiedade dos que estavam na ante-sala ao aguardo de atendimento.

A mulher de Antero, quando ele a chamava, sempre ia prontamente até o consultório acudir algum paciente tombado na cadeira, desfalecido e, babando que nem vaca com aftosa.

Neste consultório; um fato inusitado:

Imaginem vocês; meu pai, um fugitivo de consultório dentário, cansado de se socorrer em meio a receitas domésticas para amenizar a dor de dentes, de cabelos arrepiados de tanto sofrimento, os dentes uma beleza, só aquela cacaiada e, eis que ao sentar-se à cadeira de Antero, esta mais se assemelhava uma de barbeiro, O dentista o recebe solenemente dizendo:

Eheeeee Pilôto agora çê vai ver o que é fumaça vuá cabelo afora. O que, no mesmo instante, estava a portar uma seringa hipodérmica esborrifando-a bem próximo ao rosto do paciente, a tirar o ar do êmbolo e, em outra mão um boticão que mais parecia um turquesa daquelas de cortar arame farpado. Nesta num deu outra, Piloto saiu isguaritado que, até a dor de dentes correu do dentista.

Naquela época não se conheciam dentistas formados, Antero era um destes. A recomendação era proceder a extração de todos os dentes, e de uma só vez.

Também - esta é jóia - o caro inditoso teria que ficar semanas a fio, de molho, tomando leite e sopinha até os protéticos montarem suas dentaduras.

Algumas ficavam com os dentes estufados pra fora que nem a de um amigo meu nos dias de hoje, mais parecendo a dentuça do coelho Pernalonga.

Pensam que o calvário termina aqui ? que nada, teriam ainda de agüentar por um longo tempo até que a dentadura de cima fizesse a casa e encaixassem na de baixo. A famosa fase de amaciamento da gengiva. Não existia o tal corega.

Achando que tudo estaria acabado ainda teriam que reaprender a conversar, pois era um tal de ficar assobiando que nem passarinho.

As pessoas durante um longo tempo emagreciam e ficavam que nem o jeca tatu pois, não podiam comer e, quando comiam não podiam mastigar.

Veio-me a lembrança quando estudava do Grupo Escolar Dona Quita Pereira. Como havia banguelas!!!, mais parecia àquelas tomadas do canal 100 quando apresentava torcedores do flamengo.

Dos renomados remédios caseiros me vem a lume quando, no caminho de minha casa logo após a ponte da Vila Ipê tinha a chácara de Luiz de Paula, era naquele local que colhíamos resina de angico para mastigar. Diziam ser um ótimo tônico para os dentes. Que nada.

Quando a dor de dentes açoitava, para estancar, mascavam-se fumo. Não sei se resolvia nada não, só posso dizer que minha avó – Dona Lôra - mascava e, era toda cheia de brocas.

Se havia uma coisa que cortava mesmo a dor de dentes era uma música ou um poema que, era mais ou menos assim: Mourão Mourão, toma seu dente podre e decá meu são.

Ah... Enfim o milagre. Mais ou menos á época da Jovem Guarda, apareceu um tal de 1 minuto, um ácido poderoso, agente fazia um chumaço de algodão e atolava na panela do dente, anestesiava muito bem e o apodrecia muito bem também.

Até hoje fico a imaginar, porque as dores de dentes sempre à noite eram muito insuportáveis ?. Piraça!!!!

Ái qui ódio.

ps.esta cronica também é um texto de adaptação

*Bacharel em Direito e sócio honorário da Aclecia

DENER
Enviado por DENER em 24/01/2008
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