O garanhão Português
Macedo chegou ao Brasil com quarenta anos, algum dinheiro no bolso, uma carta de recomendação para um patrício e muita vontade de vencer na vida.
Oriundo de Portugal, não poderia ser diferente, trouxe também a esperança de abrir uma padaria.
Encontrando um bom ponto comercial, Macedo tratou logo de montar seu comercio e em poucos meses a Padaria e Confeitaria Lisboa estava funcionando a pleno vapor, com enorme freguesia, era um sucesso.
No final da tarde, assim que fechava o comércio, era o horário de pique, a Padaria de Macedo não cabia tantos clientes e o proprietário demonstrava claramente a sua satisfação.
Zé Carneiro era o que se pode chamar de bom malandro, desempregado, solteiro, passava o dia todo dentro da padaria e nos horários de pouco movimento ficava a conversar com o portuguê.s, Falavam sobre Portugal, dos parentes que por lá ficaram, da saudade, etc.
Certo tarde, enquanto conversavam entrou uma bela morena, pediu pão e leite, pagou e saiu sob o olhar avaliador do português Macedo.
Muito esperto e observador, Zé Carneiro notou o interesse do lusitano pela bela moça, porém não disse nada.
Mais tarde, lá pelas nove horas da noite, Zé Carneiro pediu ao português.
-Macedo embrulhe este bolo de chocolate, por favor.
-Pois não, José Carneiro, agora mesmo - respondeu o proprietário português.
Tendo recebido o bolo, Zé Carneiro saiu rapidamente indo à procura de Luiz Peba, andou poucas quadras e o encontrou numa roda de amigos conversando.
- Luiz, venha cá, por favor – chamou Zé Carneiro.
- Diga meu amigo o que é - respondeu Luiz Peba.
-Rapaz você não sabe o que eu descobri.-disse Zé Carneiro.
-O que foi meu amigo diga logo.-falou ansioso Luiz Peba.
-O português está louquinho pela Luzia.- Informou Zé Carneiro.
-Você está brincando cara, quer dizer que o "portuga" está caído pela Luzia? Minha irmã? E será que ela sabe disso? -indagou Luiz Peba.
-Sabe não, sabe não. -respondeu Zé Carneiro.
-Olhe Luiz eu comprei um bolo de chocolate que é o preferido da Luzia, vamos a sua casa e levaremos para ela, vamos dizer que foi o português que mandou. Certo?
-Tudo bem, Zé, vamos para minha casa.
Quando chegaram na casa do Luiz Peba, a Luzia estava assistindo à novela juntamente com outros familiares, quando foi chamada pelo irmão.
- Luiza venha aqui fora. - chamou Luiz.
- Diga Luiz, que desespero é este. - respondeu Luzia.
- Veja o presente que lhe mandaram. - disse Luiz Peba indicando o bolo que Zé Carneiro segurava.
- Presente? Quem mandou Zé? - indagou a irmã de Luiz.
- Foi o português da padaria Luzia, ele te admira muito, disse que você além de bonita é uma moça muito fina e me incumbiu de lhe dar este presente.
- É mesmo? Não percebi essa admiração toda, mas diga que gostei muito, bolo de chocolate é o meu preferido, ele acertou, agradeça ao Macedo por mim, Zé.
- Deixe comigo Luzia -respondeu Zé astutamente.
Zé Carneiro e Luiz Peba saíram em direção à praça morrendo de rir e fazendo mil planos para tirar proveito da situação.
No outro dia assim que o português abriu a padaria Zé Carneiro chegou, pediu uma média de café com leite, um pedaço de bolo e encostou-se no canto do balcão esperando uma oportunidade para falar de Luzia.
Assim que o movimento de clientes amainou-se, ele chamou o dono da padaria e disse:
- Macedo preciso te contar uma coisa.
- Diga José o que é?- respondeu Macedo.
- Sabe a Luzia? Aquela morena bonita e gostosa que mora na rua debaixo?
- Claro, sei quem é, o que tem a Luzia? - perguntou Macedo.
- Meu amigo Macedo não notou ainda? Ela está apaixonada por você.-informou Zé Carneiro.
-Não me digas José, é verdade mesmo? -indagou o português.
-Verdade pura Macedo. Ontem ficamos muito tempo conversando na porta da casa dela e o assunto era só você, ela te admira muito.
- Formidável, Zé, fico bastante feliz, pois o sentimento é recíproco. -disse extasiado Macedo.
- O sentimento é o que? - perguntou exclamativo Zé Carneiro.
-É mutuo José, gosto dela também.
-Tudo bem Macedo se quiser mandar algum recado estou aqui para servir o amigo. -obrigado José. És um bom rapaz, vou pensar e logo lhe digo-disse o português.
O laço estava armado e Zé Carneiro em conluio com Luiz Peba, irmão de Luzia, vislumbrava a possibilidade de tirar proveito da situação, ou seja, da paixão do português Macedo pela a bela morena.
- Um pouco mais tarde, Macedo puxa conversa com o malandro do Zé Carneiro.
- José Carneiro, estou pensando em visitar a Luzia no sábado à noite, o que achas?
- Acho que ela gostará, porém o irmão dela Luiz Peba, poderá criar problema, ele é muito nervoso e tem muito ciúme da irmã, nunca deixou que ela namorasse -respondeu Zé Carneiro.
-Não sabia disso, que dizer que a bela Luzia nunca namorou?
-nunca Macedo, o irmão não deixa mesmo -respondeu o malandro.
-Em parte acho até bom, preciso conversar com este rapaz, o Luiz, traga-o aqui José.
-Tudo bem, à noite voltarei com ele.
O resto do dia o português Macedo passou a sonhar com a morena cor de jambo, não pensava em outra coisa que não fosse a bela moça.
A noite conforme prometido o Zé Carneiro chegou á padaria acompanhado do cúmplice Luiz Peba, irmão da bela Luzia.
- Boa noite Macedo, tudo bem? Este é o Luiz, meu grande amigo.
-Como vai Luiz, é um prazer te conhecer - disse o português.
-Tudo bem Macedo, o prazer é meu – respondeu Luiz Peba.
Os dois malandros, Zé Carneiro e Luiz Peba, pediram sanduíches e refrigerantes, saboreando-os na extremidade do balcão enquanto o português cuidava de alguns afazeres necessários ao encerramento comercial do dia.
Encerrando suas atividades, o lusitano juntou-se aos malandros, iniciando uma conversa amistosa, falaram sobre Portugal, futebol, política, etc.
Na saída, o português não cobrou a conta e marcaram nova conversa para o outro dia no mesmo horário. Zé Carneiro informou sigilosamente ao Macedo que tudo isso era necessário para conseguir a simpatia do irmão da Luzia.
No dia seguinte, Luzia foi à padaria comprar pão e leite como sempre fazia. Coincidentemente Maria Gorete e Maria Bernadete irmãs gêmeas de Zé Carneiro, lindas, com vinte e dois anos de idade, também estavam lá e foram apresentadas ao gentil português que como sempre esbanjou fineza, encantando as moças.
Na mesma noite, os dois malandros, Zé Carneiro e Luiz Peba, voltaram à padaria, comeram e beberam sem pagar, logicamente com o consentimento do Macedo.
Os lanches na padaria do lusitano tornou-se hábito e já duravam dois meses, sempre antecedido pela conversa mole do Zé Carneiro.
- Macedo, a Luzia está sempre perguntando por você, dentro de poucos dias vou lhe arranjar um encontro com ela.
- Faça isso meu amigo, faça isso - respondeu Macedo com um enigmático sorriso no canto da boca.
Tanto Luzia quanto as gêmeas Gorete e Bernadete, iam diariamente à padaria em horários alternados, compravam pão e leite e ficavam conversando com Macedo por um bom tempo.
Numa segunda feira, quem abriu a padaria foi o Sr. Deoclécio um senhor de aproximadamente sessenta anos, que respondia a todos a mesma pergunta.
- O Macedo voltou para Portugal, eu comprei a padaria e estou à disposição de todos vocês.
O espanto era geral, afinal o Macedo não despediu de ninguém e nem avisou que ia embora, não ficou nem três meses e já se foi.
Os dois malandros, Zé Carneiro e Luiz Peba, davam gargalhadas e diziam.
- E agora Zé? Onde faremos nossos lanchinhos? – É meu amigo, agora ficamos pagãos - respondeu Luiz Peba. E caíram na gargalhada.
Dois meses depois, Maria Gorete, Maria Bernadete e Luzia, postavam-se na fila da “Clinica de Ultra-Sonografia Menino Jesus de Praga”, para desespero de Zé Carneiro e Luiz Peba, que praguejavam o português.