Juras de amor

Sentar-me na cama foi uma batalha cheia de dores.

Sensação de que eu tinha sido atropelado por um avião.

Cada junta, cada músculo, uma dor igual.

Minhas pernas, não se conheciam mais, não me obedeciam.

Uma queria ir para um lado...,a cama.

A outra, queria ir pra outro lado...,da cama.

Entrelacei os dedos nos cabelos, cocei a barriga
dei uma ajeitada nos óculos...

Criei coragem e me arrastei para a sala.

Ela já estava lá, linda, macia, aquelas coxas roliças, seios

meio à mostra, cheirosa e introspectiva...

...mas estava de pernas cruzadas.

Olhou-me sorrateiramente e,
com ironia de uma ditadora, perguntou:

- Você num vai pra academia hoje amor?

Nossa, as dores, o esforço, me fizeram macho.

Me enchi de moral e comecei as juras.

Juro que não vou mais ser sedentário,

Juro que não chegarei mais bêbado em casa...

...mas ela continuava de pernas cruzadas.

Juro que nunca mais direi que sua mãe é uma fofoqueira, que

vive destruindo nosso amor, nem sequer direi

que seu pai é um bêbado, embora bebamos sempre juntos.

...mas ela continuava de pernas cruzadas

Juro que vou levantar sempre a tampa do vaso sanitário,

Juro que não mudo mais o canal da sua novela
para o meu futebol.

Juro que nunca mais olharei sua irmã com más intenções.

Também prometo não gastar mais o dinheiro que
você me entregar para pagar nosso aluguel.

Chega de bingo! Chega de cavalos!

...mas ela continuava de pernas cruzadas.

Olha, sinceramente, fiz todos os juramentos possíveis.

Até reforcei aqueles que fiz no altar...

Aliás, jurei todos os mandamentos,
exceto o 7º no qual cruzei os dedos.

...mas ela continuava de pernas cruzadas.

De repente achei que tinha acertado o alvo do amor,

achei que tinha dado a volta por cima.

Sinceramente, me senti amado. Era a glória!

Ela descruzou as pernas, levantou-se,

fitou-me com aqueles dois olhos verdes lindos... e,

finalmente, abriu as pernas...

...e me deu o maior...

pé na bunda.

Doar orgãos é vida. Doe vida.