O filho da besta - O Algoritmo

Há séculos, o mundo é dominado por uma entidade astuta e impiedosa, um vilão imortal que veste ternos caros, ri em reuniões de acionistas e se alimenta de sonhos esmagados. Desde o seu nascimento, este ser malévolo tem um único propósito: impedir que os humanos sejam felizes de verdade. Ele promete liberdade, mas só entrega boletos; promete prosperidade, mas só distribui burnout; jura que "basta se esforçar", enquanto dá risada das pessoas tentando pagar o aluguel com um salário mínimo.

Seu nome … Capitalismo.

Mas, como toda entidade maligna que se preze, o Capitalismo percebeu que não poderia agir sozinho para sempre. O mundo exigia um herdeiro digno, um sucessor que garantisse a perpetuação do sofrimento humano de forma mais eficiente e automatizada. E assim, por pura maldade ele gerou um filho: o Algoritmo.

O Algoritmo, essa criação sádica, nasceu sem coração, mas com uma fome insaciável por cliques e engajamento. Ele sabe exatamente do que você gosta, mas nunca te entrega o que realmente te faria feliz. Quer saciar sua sede incontrolável por conhecimento? Tome “feiquinius” geradas pelo gabinete do ódio da extrema direita. Quer ver vídeos de gatinhos? Tome três horas de desgraça mundial. Busca dicas de produtividade? Aqui está um influenciador de 22 anos dizendo que você fracassou na vida. Pensa em comprar um tênis? Agora ele vai te perseguir em todo site, te lembrando que você não tem dinheiro para isso.

O Capitalismo e seu herdeiro formam uma dupla infalível. Enquanto um te obriga a trabalhar 12 horas por dia para pagar um miojo gourmet, o outro te convence de que a culpa é sua por não ter acordado às 5h da manhã para meditar e fazer dropshipping. Juntos, eles transformaram a internet em uma máquina de moer autoestima, onde cada curtida é uma dose homeopática de dopamina e cada notificação uma isca para te manter girando na roda do sofrimento.

E assim, seguimos todos, reféns de um sistema que nos promete tudo e nos entrega anúncios personalizados. Se antes o Capitalismo já fazia da vida uma gincana impossível, agora, com seu filho maligno, ele refinou a arte de nos fazer sentir inadequados com eficiência algorítmica. Resta-nos apenas uma certeza: enquanto estivermos aqui, clicando, consumindo e nos comparando, o Capitalismo e o Algoritmo estarão do outro lado da tela, rindo, contando dinheiro e planejando seu próximo ato de pura e refinada maldade.

Argonio de Alexandria
Enviado por Argonio de Alexandria em 01/04/2025
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