Os seminaristas - giselle sato

O conjunto habitacional de Rocha Miranda estava em polvorosa, três jovens seminaristas haviam acabado de mudar para o 204, amigas de longa data, Dona Conceição e Dona Aparecida disputavam as boas vindas com o famoso bolo de fubá versus a cuca de banana. Eram beatas de carteirinha e fizeram tudo para uma boa amizade. Em vão...os rapazes aceitavam os doces e da porta mesmo despachavam as vizinhas.

Tudo parecia calmo até que o prédio foi invadido por um odor fétido de defumador brabo, olhos ardendo,tossindo loucamente o rapaz do 206 desceu as escadas com o cachorro desmaiado nos braços, intoxicado com a mistura abominável.E a discussão começou quando o dono do animal acusou os seminaristas que foram defendidos pelas carolas. Apesar das suspeitas não houve comprovação visto que os rapazes não atenderam a porta. Portanto, não estavam em casa, inocentes...

Alguns dias depois o assustado vizinho dos seminaristas, Paulinho, ouve sinos fortes acompanhados de palmas e cantos africanos de invocação. Liga para um amigo adepto do candomblé e este não tem dúvidas, é um ponto de demanda braba. Pelo olho mágico o vai e vem no corredor confirma que é algum ritual.Pessoas com bolsas cheias de flores e alguidares entram no apartamento. Paulinho se benze, acende vela para Cosme e Damião e reza apavorado. Os cântigos continuam até quase meia noite e o bloco de apartamentos parece surdo.

Não se contendo visto que é católico fervoroso ,Paulinho abre a porta e sai para o corredor disposto a brigar. No que vai num pé retorna noutro, o seminarista em roupas de baiana se despede da assistência no corredor e dá de cara com o furioso vizinho, olhos vermelhos de raiva. Um gritinho... dispara pra dentro e bate a porta com força.

Nunca mais houve manifestações religiosas de qualquer tipo e nem se tocou mais no assunto. A fofoca da hora são carrões que encostam de madrugada levando e trazendo os jovens seminaristas. Paulinho toda semana deixa cartas anônimas na caixa de doações da igreja contando em detalhes as folias dos meninos. Das duas uma , são interceptadas ou lidas e apreciadas, num eterno folhetim.
Giselle Sato
Enviado por Giselle Sato em 17/01/2008
Reeditado em 25/04/2008
Código do texto: T821098
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