Belinha a sensitiva - A herdeira impaciente
Dona Maria Estela, uma mulher de setenta anos, elegante e com aplique louro no cabelo, entra na casa da Sensitiva Belinha. Ela se senta na mesa, ansiosa.
Maria Estela: (direta) Sensitiva Belinha, preciso da sua ajuda. Meu pai tem cem anos e está sofrendo. Eu quero saber o que posso fazer para apressar sua ida para o mundo do além.
Sensitiva Belinha: (surpresa) Nossa, dona Maria Estela, isso não tem cabimento! A senhora não pode desejar a morte do seu pai.
Maria Estela: (desdenhosa) Ora, não tem cabimento? Tem cabimento, sim! Minha querida, eu quero é liberdade, para administrar a fortuna dele, mas papai parece que advinha, ele é duro na queda! Eu já tentei tantas coisas, mas nada deu resultado, papai é um verdadeiro touro!
Sensitiva Belinha: Oi?! Tentou tantas coisas o quê?
Maria Estela: (desconfortável) Eu disse que tentei…?
Sensitiva Belinha: Sim, disse! Só que para mim não ficou claro, dona, se a senhora tentou ajudar ou jogar seu pai direto no buraco? Maria Estela: (rindo de nervoso) Não, imagina! Eu quis dizer que eu tentei de tudo para ajudar o meu pai, os remédios mais caros, os hospitais mais conceituados. Bem, ele está sofrendo e o meu desejo é que ele descanse em paz. Além disso, papai deixará uma fortuna que ajudará muito gente, eu por exemplo!
Sensitiva Belinha: (séria) Dona Maria Estela, eu não posso ajudá-la nisso. Mas vamos ver o que o meu oráculo mostrar. (Ela embaralha as cartas) Vamos ver... (tira uma carta) O Juízo Final. Esta carta representa o fim de um ciclo e a necessidade de reflexão.
Maria Estela: (impaciente) O que isso tem a ver com o que eu quero?
Sensitiva Belinha: (sorrindo) Tudo, dona Maria Estela. Você precisa entender que a morte não é algo que possa ser apressado. É um processo natural.
Maria Estela: (frustrada) Eu não quero ouvir isso! Eu quero saber o que posso fazer para apressar a ida do meu pai, do Senhor!
Sensitiva Belinha: (firme) Dona Maria Estela, eu não posso ajudá-la nisso. (tira outra carta) O Oito de Espadas. Esta carta indica que você está presa em um ciclo de ganância e necessita de libertação.
Maria Estela: (irritada) Ganância? Não é ganância, é meu direito! Meu pai trabalhou duro para deixar essa fortuna para mim e eu não abro mão. Até porque, se ele viver mais uns 20 anos, é capaz de eu ir primeiro e não vou desfrutar de nada!
Sensitiva Belinha: (séria) Dona Maria Estela, você precisa refletir sobre suas intenções. (tira outra carta) A Morte. Esta carta representa o fim de um ciclo e a necessidade de aceitação.
Maria Estela: (frustrada) Isso é tudo? Você não pode me dar uma resposta direta? Como por exemplo, para mim poder dar herança?
Sensitiva Belinha: (sorrindo) Olha, dona, a vida não é tão simples assim. (fecha o baralho) Eu não posso ajudá-la nisso. Eu sei que, se fosse a senhora, valorizava um pouco mais seu pai. Pelas minhas cartas, ele terá vida longa! E cuidado, dá tempo dele tirá-la do testamento!
Maria Estela: Eu nunca ouvi tanta sandice na minha vida! (Ela jogou um maço de duzentos reais na mesa do baralho) E pode ficar com troco, isso para mim é apenas migalhas!
Sensitiva Belinha: (sorrindo e balançando as cédulas) Eba, mas para mim não é não, vai me ajudar e muito, volte sempre!
(A madame se levanta, irritada, e sai da casa.)
Sensitiva Belinha: Próximo cliente!