O DISCURSO DO PREFEITO

Reza a lenda, que lá pelos idos dos anos sessenta, havia no interior das minhas Minas Gerais uma cidadezinha de aproximadamente quarenta mil habitantes que seria Araguari daquela época. La havia uma família tradicional de coronéis fazendeiros abastados que ocupava quase a totalidade dos cargos públicos vigentes naquela pequena cidadela. De toda a família destes abastados fazendeiros, somente dois ou três tiveram o privilégio em carrear o diploma de grandes caudilhos e os outros tantos eram desprovidos ate dos cursos primários, mas, todos tinham o diploma do poder nas mãos que eram as fortunas que adquiriram por bem ou pelo mal. A maioria como eu disse, ocupavam cargos públicos. Como prefeitura, delegacias, câmara municipal e ate diretoria de colégios.

Dentre todos estes que citei, havia o Sr Clodoaldo que ocupava o digníssimo gabinete de prefeito. Coronel Clodoaldo, nome que derivava de seus antepassados, que eram grandes plantadores de cana de açúcar e cafés da região. Títulos estes de coronéis que eram adquiridos ou mesmo comprados pelas suas famílias abastadas e importantes da época. Coronel Clodoaldo não pedia, mandava e quem era inteligente obedecia por conseguinte. Eles mandavam mesmo. Mesmo que fossem de fato ou de direito ou não por direito.

Desta feita, Coronel Clodoaldo fora convidado a paraninfar uma turma de formandas do curso normal de um grande colégio de freiras, as quais pertenciam a congregação do Sagrado Coração de Jesus, onde da mesma forma, eram moças recatadas de famílias ricas e abastadas que poderiam estudar naquela entidade uma vez que eram particulares e de vultosas somas de mensalidades.

No dia da tão esperada formatura, Coronel Clodoaldo tomou seu banho, abusou-se na água de cheiro, passou seu óleo de extrato de flores na sua cabeça desprovida de cabelos e adentrou em seu terno branco de linho cento e vinte. As polainas pretas eram o seu destaque, as quais, lhe assentaram muito bem dando-lhe o ar de realmente um comandante e por conseguinte contrastando com o branco de seu terno de linho cento e vinte. Deu uma quebrada na aba de seu chapéu Panamá, também branco e já ia partir para o tão esperado evento quando sua esposa devota e ciumenta, deu o ar de sua graça. Dava sempre o seu fingir costumeiro quando o Coronel se aprontava para as suas incursões noturnas. Dizia estar passando mal dos quartos e se dizia impressão de estar com um nó nas tripas. Na época as famílias tradicionais eram atendidas pelos seus médicos particulares em suas próprias residências. Coronel sabedor das intenções da esposa em barra-lo de seus intentos ,não se fez de rogado .Chegou ate o canto da casa, foi ate ao telefone de parede, deu umas três ou quatro maniveladas naquele troço antigo e de pronto foi atendido pelo amigo Dr. Euclides que logo lhe foi exposto do problema de sua digníssima esposa.

Coronel homem ladino e astuto, assim que seu médico apareceu colocou-o a par do compromisso e pediu-lhe que a administrasse um sossega leão para acalmar a dita cuja. Coronel montou em seu Fordinho de bigode e lá se foi garboso e mentido a besta ao destino do colégio das freiras recatadas o qual já se encontrava totalmente abarrotado.

Reza a lenda que Coronel Clodoaldo chegou um tanto quanto meio atrasado. Já haviam falado a madre superiora, uma aluna representando o restante das meninas. O salão totalmente abarrotado com convidados, pais e parentes das formandas, o qual, inspirou mais ainda a verve de nosso digníssimo governante daquela pequena metrópole.

Coronel Clodoaldo foi logo convidado a ocupar a tribuna de honra, ou seja, o púlpito parlatoral daquele grande salão.

Prefeito Clodoaldo não se fez de rogado, mirou aos quatro cantos do salão, tirou o óculos de um dos bolsos de seu paletó de linho, repousou-o sobre a ponta de seu nariz e de outro bolso tirou o pergaminho de seu discurso previamente escrito a pena de ouro que era muito usual naquela época aos homens de bem. Deu uma pigarreada na garganta, coçou o saco e deu-se inicio a sua verborragia.

- Meus caros e minhas caras e correligionários. Não poderia deixar de estar neste momento intrínseco aqui com vocês, porque acabo de deixar a minha querida e amada esposa deitada na cama com o medico dela.

E prossegui a sua verborragia:

-Vocês meninas, que hoje vejo desabrochar em flor, abre o seu botão para a vida para que coisas boas possam lhes penetrar daqui pra frente pelo resto dos seus dias. Como disse o poeta, a rapadura é doce mas é dura e vocês terão o sabor da coisa dura, ou quiçá ,mole também

-Vocês agora vão seguir o seus caminhos cursando a faculdade da vida. Algumas de vocês certamente chegaram ao clímax, outras porem, levaram pau da vida, mas, não se esmoreçam e não tremam com o tamanho dos obstáculos.

Quando o prefeito escreveu o seu discurso em casa, a bico de pena de ouro não deixou de dar alguns borrões, no que era normal. Nem sempre a escrita saiam limpas e perfeitas. Devido a tudo isto na hora do Sr.prefeito finalizar o seu discurso, foi justamente na parte borrada em que o seu prefeito atrapalhou. Já que no caso ele já havia atrapalhado desde o inicio. Prosseguindo o seu discurso:

-A vida é como o caralho( parte borrada) que cresce fica enorme e um dia nos da guarida e nos dando a sua sombra para o nosso descanso final. E para finalizar deixo aqui o meu afeto e meu abraço fraternal a todas as famílias destas meninas desabrochadas.

Em outra ocasião contarei uma outra história dos mesmo prefeito que levou as suas três filhas em um bordel para aprender a bordelar. Qual não foi o espanto da dona do bordel ao atender o seu prefeito com as sua filhas naquele antro de perdição ,mas, com as devidas explicações por parte da dona do meretrício, ficou explicito que ali era bordel e que não se aprendia bordar. As prendas domesticas as quais o sr prefeito se referia, não se encontraria ali e sim, alguém com prendas domésticas as quais pudessem dar ao Sr.Prefeito e suas filhas o aprendizado de bordar.

Diney Marques
Enviado por Diney Marques em 15/01/2008
Reeditado em 11/02/2021
Código do texto: T818555
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