A buceta e o campo molhado

— Quer picanha?

— Picanha?

— É, mana, picanha, quer?

— Óbvio! Mas também quero saber da noite, mulher! Diga!

— Ai amiga... Isso até me acanha.

— Acanhasse se julgasse, mas não julgo. Conta!

— Cadê o Carlinhos?

— Lá fora, brincando de bola. Agora, bora! O Relato!

— Ah, lembra do primeiro encontro que tive com o Bernardo? Não foi perfeito?

— Sei, conversa agradável, porta do carro, puxa cadeira, restaurante caro e mais o quê?

— A noite celada com um beijo! Ô lábia boa de morrer! Ah, ele era pra ser o meu eleito!

— Se “era” é porque não “foi” ... Que foi?

— Hum, acho que vai chover.

— Pois é, mas se chamar esse curumim, ele vai dar um chilique. Te avexa não, continua!

— Me levou pra um motel chique, jacuzzi, sauna e colchão d’água. Já foi logo me beijando e, menina, que pegada!

— Xiii, não vai ficar molhada no meu sofá.

— Mulher, esse foi o estopim! Ficar molhada!

— Se mijou?

— Não, lesa, excitada! Ele reclamou que eu tava muito melada. E tava! Um homão gostoso daquele me beijando todinha e me colocando contra a parede, como não ficava? Fora que fazia seis meses que eu tava na seca, sem um sinalzinho de água. Só sei que continuamos, apesar da minha “semi-broxada”, e começou a “guerra do boquete”. Sabe aquela empurra-empurrada ventre abaixo? Pois é, mana, no fim, chupei.

— Safada! E ele?

— Não disse nada! Só gemeu feito dobradiça velha e jorrou porra na minha cara. Depois, naturalmente, fiquei deitada esperando a reciprocidade do ato... Não teve! Só ouvi um rasgo de plástico e depois ele metendo em mim.

— Mulher, nem uma dedadinha?

— Nada. Mão e língua passaram longe de larissinha. Não sei se por desespero ou necessidade, continuei excitada, afinal, oral se pode deixar pra mais tarde. Tipo coelhinho, começou aquele mete-mete. Até que o boy desceu da cama e buscou um lencinho pra limpar o cacetete. Novamente, disse que eu tava “molhada demais”. Que frescura! Agora é crime se excitar? Criou-se uma nova lei da trepação enquanto eu tava no meu sabá sexual? Mulher, tá caindo um toró, o gramado vai encharcar.

— E tu acha que esse curumim vai reclamar? Deixa ele. Continua teu conto dramático. E depois? Continuaram?

— No automático. Um segundo gozo e ele caiu de lado perguntando se eu também tinha gozado... Parecia piada, mas ele falava sério. Respondi que não e ele tratou isso como um grande mistério: como eu não tinha chegado lá? Aparentemente, isso nunca aconteceu com as antigas parceiras de coito. Tadinho, mal sabe que comeu um bando de atrizes perdidas da Globo.

— Oh mana, que trepada lastimosa.

— E pra ele, custosa. Fiquei tão puta que fui logo pegando as coisas mais caras do frigobar e ai dele se reclamasse. Queria me levar numa lanchonete furreca no Tarumã-Açu, fui nada! Exigi Coco Bambu!

— A picanha tá boa. Nem parece de frigideira.

— Né? Ainda fiz ele pagar essa marmita pra ti.

— Abençoada seja a foda fuleira.

— Olha lá o Carlinhos! Todo enlameado!

— Deixa, ele gosta.

— De jogar bola em quintal molhado?

— Não, de jogar bola, não importa o terreno.

— Ao menos. Ai, mana! Só de lembrar daquele corpinho todo esculpido... Queria eu ter bebido whisky naquele umbigo. Planejei tantos usos pra aquela boca... Fiquei mal-acostumada com o Joelinton, lembra dele? Aquele ali é homem sem frescura, que beija, pega, cheira, chupa e se lambuza. Que pega de cima, de lado, de frente, de costa, sabe? Que mete a cara na cachoeira, que faz piar a jiripoca. Pau, dedos e boca pra toda obra. Mas esse aqui disse que nem de fazer oral gosta, que caceta!

— Mana, o “senhor lencinho” aí não gosta de buceta.

— Será que ele é...?

— Antes fosse. Daria até pra entender. Talvez até possa ser, ou tem TOC, sei lá. Vai que é trauma de sushi azedo.

— Não vem não que eu tava cheirosa.

— Então é só mais um hétero que não gosta da chorosa.

— Ouve o que tu diz. Como é possível?

— Simples: ele gosta de mulher, não de buceta. Gosta das curvas, do cabelo, da pele impecável, dessa “coisa feminina”. Mas não gosta de olhar, provar ou cheirar vagina. Não importa se na frente ou se anal, ele só quer um buraco pra enfiar o pau. É como se fosse uma masturbação, só que ao invés da mão, ele usa tua buceta e no lugar do pornô, ele olha teu corpo.

— Pensou nisso tudo agora ou é tese de mestrado?

— Não, só anos de gansos mal afogados. O fato é que esse aí é caso perdido.

— Mas o papo é tão divertido...

— Então que seja amigo.

— Mas fora isso, acho que estou gostando dele...

— Então contente-se em fazer amor, não sexo.

— Credo, amiga! Coitado!

— Como um jogador pode ser bom se foge do campo molhado?

Thaíssa Henrique
Enviado por Thaíssa Henrique em 17/10/2024
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