O Fim do Mundo

- Eita, Helena! Desculpa, mas não consegui evitar e ouvi o restinho da sua conversa com o Roberto.

- Ai, dona Zuleica! A gente tá bem endividado.

- Mas o que andaram fazendo?

- Ah! Ele quis arrumar o carro e eu dei uma geral na casa.

- Agora, veja se conseguem se segurar um pouco para pôr as contas em dia. Eu fico sem dormir, quando estou devendo muito.

- E, por falar em dívida… Aqui não tem eleição neste domingo, não, né?

- Tem, não.

- Que alívio!

- Por que a pergunta?

- É que vi umas meninas na parada conversando sobre isso.

- Anhé?

- É!

- Elas devem morar em Goiás.

- Deve ser.

- E o que estavam falando?

- Que estavam cansadas de carro de som passando, da sujeira dos santinhos…

- É. Essa parte incomoda mesmo. Mas o voto ainda é a forma mais significativa de representar um regime democrático…

- E as eleições são a festa da democracia… nhé, nhé, nhé!

- Muito bem! Tirando a parte do nhé, nhé, nhé, claro!

- Ainda bem que não tem eleição aqui. Tu ia me pagar caro!

- Eu??

- Claro! Toda vez, a gente conversa sobre isso, você me ajuda a escolher os candidatos.

- Sim! Acho que temos posições parecidas, politicamente falando.

- Pois é! Mas, desta vez, tu não falou nada. Sei nem pra que lado que eu ia.

- Ôxi, Helena! Não falei, porque não tem eleição municipal em Brasília.

- Sorte sua! Se tivesse, tu tava toda endividada comigo!

- Helena! Você não pode ficar dependendo de mim para exercer sua cidadania, não. Tem que ficar esperta com essas coisas.

- Eu sou bem esperta! Tão esperta que deixo a tarefa de pensar contigo.

- Não pode! Vai que acontece alguma coisa que me impeça de votar?

- Duvido! Do jeito que tu gosta de política, arrisca ir com um saquinho de soro pendurado no braço pra não perder o voto!

- Pois, você vai ver. Em 2026, não vou falar nada! Você vai ter que escolher seus votos sozinha!

- E se eu fizer bobagem?

- Faz, não. Você já sabe avaliar um político pelas propostas, e não pelo discurso vazio ou pelas trocas de acusação.

- Você confia demais em mim.

- Acho que você não me decepcionaria. Se houver eleições em 2026, claro!

- Se?? Não é certo, isso?

- É. Mas, se você está vendo os jornais, sabe que Israel e Irã estão prestes a começar uma guerra.

- Vi por alto! Fico triste quando mostram imagens dos ataques, as mulheres gritando. Não entendo nada do que estão falando, mas sei exatamente o que estão dizendo.

- É! É muito triste, mesmo. Eu também não gosto de assistir.

- Mas, o que é que a guerra lá do outro lado do mundo afeta as eleições aqui?

- É que pode haver uma escalada dos conflitos, envolvendo outros países. Estados Unidos e Reino Unido já tomaram partido por Israel.

- Ainda não entendi onde isso atrapalha o bilibliblibili da urna.

- A depender do quanto isso avance e do nível de desespero de alguns envolvidos, não duvido nada que algum maluco decida usar armas nucleares.

- Eita!

- E ainda tem a guerra da Russia com a Ucrânia!

- Você acha que…

- Sim! Pode ser a terceira guerra mundial! Nosso planeta tão judiadinho não aguentaria mais essa!

- Sério, dona Zuleica? Tu acha mesmo que o mundo pode acabar?

- Risco há.

- Você me avisa quando tiver certeza?

- E posso saber porque essa animação?

- É que, se o mundo for acabar mesmo, daí posso fazer mais umas dívidas! Tô precisando trocar a geladeira e…

- Helena!!

 


Texto publicado na minha coluna de hoje no jornal Alô Brasília
https://alo.com.br/o-fim-do-mundo/
Imagem gerada pela IA Canva