A terceira verdade

Adolescentes.

Algumas pessoas têm ideias erradas sobre os jovens.

Pensam que são todos uns sujeitos um tanto estranhos.

Eu, portanto, seria estranho.

Matheus, que é um dos meus melhores amigos, acha que não.

Mas aquelas pessoas também acham Matheus estranho.

Eu penso que ele é apenas um pouco estranho, não muito.

Meu pai é outro dos meus melhores amigos.

Mas isso não conta muito porque pai é pai.

Não tenho cão nem gato, nem passarinho ou peixe de aquário.

Outros melhores amigos meus são mesmo os livros.

Matheus também gosta de ler.

E ontem me confessou uma coisa:

ele acredita ter formulado uma terceira verdade universal.

Mas, honesto que é, fez uma ressalva:

é possível que alguém já tenha pensado o mesmo antes dele.

O mundo é grande, nunca se sabe:

uma mesma ideia pode surgir em diferentes pontos do planeta.

Isso também é outra grande verdade:

poderia ser a quarta verdade universal.

Mas ele preferiu deixá-la para outra ocasião.

Não vai patentear nenhuma das duas agora.

Achei bom, porque patenteá-las poderia parecer patético.

E ele nem tem dinheiro para isso.

Mas vejamos seu raciocínio: iremos todos morrer um dia.

Isso é certo, a maior de todas as verdades.

Ninguém fica para semente, como diziam os antigos.

Assim como da morte, também não escapamos dos impostos.

Não tem como fugir dessa segunda verdade.

Se tentar, soltam o leão da Receita atrás de você.

Meu pai diz que isso não tem jeito:

se correr o leão pega,

se ficar o leão come.

Come todo o nosso dinheiro, o insaciável.

Até mesmo aquele que nem devemos ao fisco.

Depois de pagarmos inúmeros impostos,

de nos cuidarmos para não morrermos de raiva do leão,

depois ainda de muita leitura e pesquisa,

meu amigo Matheus sentenciou:

não existe prefácio do contra.

Ou seja:

todo prefácio de livro é sempre a favor.

Da obra e do autor, sempre.

Para ele essa seria a terceira verdade universal.

Fiquei um pouco na dúvida, mas não discordei.

Eu poderia perder meu melhor amigo.

Ele me disse que seria importante lembrar disso sempre.

De que ele era meu melhor amigo?

Não, de que todo prefácio de livro é sempre a favor.

Estando ou não com um livro em mãos.

Ou antes de pagar os impostos e de morrer.

E eu ia lá discordar de alguém que tem tantas ideias excelentes como Matheus?

Jamais!

E ele ainda me advertiu:

para nunca confiar totalmente nos prefaciadores,

não apenas porque eles são sempre a favor,

também porque tendem a tornar os livros e seus autores muito melhores do que eles realmente são.

Para quê?

Para que o leitor pague mais caro ao comprar um exemplar de seus livros, ele completou.

Então fiquei pensando se isso não seria outra verdade universal...