Falação e fabulação

Houve um tempo em que os animais falavam.

Foi há muito tempo, claro.

Foi antes de os homens dominarem completamente a Terra.

Os macacos se mandaram para um outro espaço.

Que era o Planeta dos Macacos, em Hollywood.

Um lugar distante, repleto de astros e estrelas, constelações deles.

Apesar disso, humanos e macacos têm certo parentesco.

Como mamíferos são de uma mesma ordem, a dos primatas.

Daí que tanto uns como outros apreciam bananas.

Bananas são um traço comum entre eles, além de outros.

Mas somente os humanos conseguem escorregar nelas.

E quando se esborracham no chão gritam palavrões cabeludos.

Tão cabeludos quanto os próprios macacos.

Esse é mais um detalhe que nos aproxima dos símios.

Entretanto, bem lá atrás, os humanos apenas grunhiam.

Gastaram muito tempo em pesquisas linguísticas, uns esforçados.

Enquanto outros folgados só pensavam em decorar as paredes de suas cavernas.

Verdade que as pinturas rupestres também são uma forma de comunicação, não apenas de expressão artística.

Muito tempo se passou até que os humanos conseguissem desenvolver uma linguagem própria.

Ela não era completamente homogênea, porém, então se valiam também de sinais.

De um modo ou de outro, daí em diante não pararam mais de falar.

E também de sinalizar, mandar tomar naquele lugar, unindo o indicativo e o polegar.

Que em outro contexto significava apenas OK.

Era tanta sinalização e falação que os homens se desentendiam facilmente.

Esses episódios culminaram numa torre de babel, ou seja, confusão da grossa.

Quanto mais subiam na torre e discutiam, mais se desentendiam e brigavam, não tinha jeito.

Brigaram tanto, falaram e fizeram tantas asneiras que envergonharam até os animais.

Os burros, por exemplo, se resignaram a apenas zurrar.

Porque a concorrência humana estava ficando bastante desleal.

Os outros animais fizeram o mesmo: sabiamente, pararam de falar.

Ainda bem que Esopo conseguiu registrar a tempo suas derradeiras palavras.

E elas foram fabulosas...