Refrigério federal
Dois conhecidos se encontram numa conhecida sauna de Brasília:
C1: E então, Rogério, como foi sua volta ao trabalho depois das longas férias?
C2: Ah, Paulão, minha chefa me recebeu de braços abertos. Ainda bem!
C1: Ainda bem, como assim? Aconteceu alguma coisa? Não entendi...
C2: Ora, Paulão: já pensou se em vez de me receber de braços abertos ela tivesse me recebido de pernas abertas? Eu sou comprometido, tenho de tomar cuidado com essas coisas. Ah, ah, ah, ah...
C1: Sei, Rogério, sei. Mas falando desse jeito, mais do que comprometido você fica parecendo um idiota.
C2: Caramba, Paulão! Sinceridade como a sua machuca, sabia? Era apenas uma brincadeira. O Tonhão teria entendido melhor a coisa!
C1:Tonhão? Quem é Tonhão, que eu não conheço?
C2: Tonhão é meu namorado baiano. Conheci o boy em Salvador durante as férias. Engatamos um romance apimentado lá mesmo e que continua aqui: trouxe ele para morar comigo.
C1: Verdade?! E o que a Sandra achou disso tudo?
C2: Ah, fique sabendo que eu me separei da Sandrona durante as férias. Como você devia desconfiar, nosso casamento era apenas de fachada: o meu negócio era outro, o dela também.
C1: Nossa! Aconteceu tudo isso nesse tempo? Essas suas férias então foram movimentadas e apimentadas mesmo, hein? Além de bastante longas, não?
C2: Pois é, Paulão, foram mesmo. Férias atrasadas, licenças-prêmio, horas extras, tudo: converti parte em dinheiro e parte em férias, três meses no total com um bocado de grana no bolso.
C1: Nada como o funcionalismo público, não, Rogério? E ainda por cima o Judiciário, que maravilha! Maravilha e privilégio: li no jornal dias atrás que o Judiciário terá R$ 3,84 bi a mais para gastos no ano que vem graças ao arcabouço fiscal proposto pelo ministério da Fazenda e aprovado pelo Congresso Nacional.
C2: Também li; ótima notícia, não? Como disse o nosso grande ministro, salvamos o Brasil da anarquia e do fascismo dos manés: eles perderam! E vamos reeleger o presidente fazendo novamente o ‘L’ em 2026, se Deus quiser! Mas se ele não quiser, o carecão poderia ser uma boa opção, um sol na cabeça a nos iluminar, não? E de volta ao que interessa, grana, é claro, nada mais justo do que remunerar dignamente os soldados da democracia, que somos nós todos, não é?
C1: Nossa! Você me deixou todo arrepiado com esse pequeno discurso de defesa da democracia! Te admiro muito, Rogério!
C2: Vai devagar, Paulão! Ah, ah, ah, ah... Olha que estou comprometido com o Tonhão, quase casado com ele já.
C1: Mas você não está morto, está?
C2: Isso nunca!
C1: Então vem!
C2: Vou, é claro!
Moral da história: indo pra frente, indo pra trás ou indo de lado, quando o Estado é inchado, perdulário, ineficiente e muito refrigerado, quem sifu é sempre o contribuinte mesmo.