O dólar da pequena empresária Vânia
Há muito aprendi respeitar o horário de novelas.
Ai de mim se não o fizer!
Entro em casa “caladinho” e só me atrevo a falar nos momentos dos comerciais. Se possível fosse, tiraria até os sapatos e entraria nas pontas dos pés.
Todavia na hora do jornal a recíproca não é verdadeira. Nem poderia, é claro. Ai cada novelista já aprendeu a falar e falar muito. Comentando bem alto. Com uma única, exclusiva e pequeníssima exceção à regra, é claro.
Explico:
É que dentre as novelistas há uma propensa “pequena empresária” – minha sobrinha, Vânia – que, em um determinado momento das “notícias do jornal”, para de falar e passa a prestar atenção ao comentarista. Principalmente quando este se refere ao tal do dólar americano.
Reexplico:
Acontece que a tal da Vânia, como candidata à pequena empresária de doces e salgados, certa feita recebeu um dólar em meio às notas dadas por uma das suas clientes. A pretensa empresária ficou simplesmente maravilhada. Enfim seu comércio de coxinhas já teria algo a ver com essa tal de “exportação”.
A partir daí a Vânia, uma das poucas pessoas que consegue transformar peitos de galinhas em “coxas de galinhas”, resolveu não gastar seu único dólar, e passou a estar mais sintonizada às mensagens de reportagem televisivas, principalmente quando o negócio versava sobre esses tais de “câmbios e cotações”.
Inicialmente o “dólar da Vânia” beirava as casas dos oitenta centavos da nossa moeda; depois passou a subir sistematicamente até passar das casas dos três reais. Não dá para imaginar a euforia da nossa futura empresária. Acontece que ultimamente a Vânia tem estado desanimada ante a queda paulatina da “sua moeda”. Chega a discutir com a televisão, xingar governantes, reclamar dos barris de petróleo que ainda restam e “soltar os cachorros” nessa tal de “bolsa de valores”.
Eu, seu “consultor jurídico” para assuntos externos, tenho procurado atenuar seu sofrimento dizendo que “câmbio” é assim mesmo; e a aconselhado a trocar imediatamente seu dólar pela da moeda euro antes que sua aplicação vá a bancarrota.
Tento explicar para ela que não dá mais para esperar nem mesmo a moeda verde da América do Sul; tampouco uma moeda amarela oriental, que porventura apareça. É pegar ou largar!
Ou troca imediatamente sua “moeda da sorte”, saída lá dos estados unidos da América do Norte, por até centavos da moeda advinda dos países unidos da Europa ou sua proponente empresa irá à falência prematuramente.