Tempos difíceis
Paciente e médico estão em consulta; o primeiro entregou ao cardiologista os vários exames feitos a seu pedido.
Dr. Eduardo examina tudo devagar e cuidadosamente e então diz ao seu Zezinho:
“Sinto muito, mas as coisas não estão muito boas para o senhor. Sua angiotomografia coronariana mostra placas de gordura acumuladas nas artérias, então o senhor vai ter de passar por um cateterismo para verificarmos o real grau de entupimento delas.”
Seu Zezinho nada diz, permanece sério, preocupado. O médico preenche uma guia solicitando o procedimento etc., depois explica a ele o que deve fazer junto ao plano de saúde, hospital e assim por diante. Ao final seu Zezinho pergunta: “Mas doutor, só coisa ruim mesmo: o senhor não tem nenhuma notícia boa para me dar?”
O médico lhe diz que não ainda, porque somente o cateterismo poderia ou não confirmar as informações da angiotomografia e dependendo do resultado desse procedimento, talvez fosse necessário fazer uma revascularização arterial. E explicou-lhe o que seria isso.
“Uma cirurgia de risco ainda por cima?” reagiu seu Zezinho. “Doutor, só notícia ruim mesmo. Desse jeito é melhor morrer logo...”
Vendo o desânimo do paciente, o médico resolve alegrá-lo um pouco então diz ao seu Zezinho: “Acho que me confundi um pouco, seu Zezinho, na verdade tenho duas boas notícias para dar."
E seu Zezinho esperançoso: “E quais são elas?”
Dr. Eduardo: “O senhor precisa ver a coisa ruim por outro lado. Se for necessário fazer a cirurgia e der tudo errado, pelo menos depois o senhor não vai mais precisar pagar a mensalidade do plano de saúde. Não está bom, assim?”
Claro que não estava bom, então seu Zezinho quis saber qual a outra “notícia boa” do médico. E ela veio assim: “A outra notícia boa é que segunda-feira eu viajo para Londres para lá ficar durante duas semanas junto com minha mulher, com tudo pago pelo laboratório X, cujos medicamentos eu sempre receito para meus pacientes, um mimo que veio em boa hora. Estou ficando cansado de dar más notícias para eles.”
Depois dessa seu Zezinho não quis ouvir mais nada, então se levantou da cadeira, enfiou o rabo entre as pernas, quer dizer, toda a papelada e os exames numa pasta, despediu-se do médico e se foi. Na saída, ao passar pela secretária do cardiologista, disse-lhe até logo e ouviu da moça: “Vá com Deus, seu Zezinho.”
Ele nada disse em resposta, depois se encontrou com a mulher que o aguardava na sala de espera, os dois saíram da clínica e dentro do automóvel, ainda sem dar a partida ele contou tudo a ela, menos a parte das “boas notícias” do cardiologista. E disse em seguida:
“Até a secretária do doutor Eduardo deve estar sabendo que estou muito mal porque em vez de me dizer simplesmente até logo como sempre fazia, me disse 'Vá com Deus, seu Zezinho.'”
A mulher: “E em resposta você disse a ela que ficasse com Deus, não foi?”
Ele: “Eu não! Ela é nova ainda, parece ser bastante saudável, então eu não disse nada porque se tem alguém precisando muito de Deus sou eu, ela não. Vim embora com Ele então.”
E a mulher: “Zezinho, você é um egoísta mesmo! É por isso que está todo estropiado!”