Cachorrada
Noutro dia meu irmão foi mordido por um cão retroweiler enquanto roia um osso de frango na porta da padaria daqui do bairro vendo a televisão de cachorro assar os penosos. Mas ficando sem tomar vacina contra a febre aviária, por conta dessa mordida avoou e retrocedeu mentalmente no tempo, quer dizer, passou uns tempos meio estranhos, anormais para um cão domesticado como ele em sua gaiola.
Só queria ver filmes antigos da Lassie pelo retrovisor da televisão e se locupletava quando na telona apareciam políticos retrógrados que prometiam tratamento animal para seus eleitores (“vota em mim, seu burro, vota logo”.) Mas o coitado ainda nem podia votar e já andava preocupado com o futuro do país, enquanto o país pouco estava ligando se ele fosse comido por um pitbull na sua próxima saída à rua para urinar num poste próximo daqui.
Ainda não foi hoje, mas é questão de tempo, foi o que nosso pai, que é veterinário, disse na nossa última ceia, ontem à noite. Bem simples a nossa, nada parecida com a da abertura das Olimpíadas de Paris, que aqui em casa somos todos normais, exceto minha mãe. Que é uma santa mulher, preocupada apenas com suas linhas e retroses: foi ela quem costurou meu irmão mordido pelo retroweiler, coisa que somente um renomado cirurgião prático poderia fazer pior.
E hoje também nos fartaremos todos de Royal Dogin Retroweiler Premium. Ou de sementes de girassol, pode ser.