Jerry Bocchio e o Rapto de Batz – Capitulo V: Uma Ajuda Tardia
O caso do sequestro do cachorro Batz tomou proporções que nem eu esperava. Batz morreu por causa de um ato impensado de Tampinha. E agora, os dois seqüestradores, Tampinha e Samurai, também estão mortos. Isso indicava ser queima de arquivo.
Só que, naquele momento, Tom e eu estávamos chocados ainda com toda aquela situação. Além disso, eu também estava irritado com o Capitão Lester Gregade. Ele se opôs à nossa investigação desde o começo por causa da tal "materialidade", e agora que o caldo azedou, ele vem oferecer ajuda.
Nós voltamos para a delegacia. Tom e eu fomos para as nossas mesas tentar esfriar a cabeça. Enquanto isso, o Capitão Gregade ia dando continuidade à sua rotina como se nada tivesse acontecido. Aquilo me irritou. Eu me levantei e fui para a sala dele. Agora ele ia ouvir:
– E aí, Capitão? Não tem mais nada pra falar pra gente?
– Jerry, agora não é hora pra isso.
– Como não é hora pra isso, Capitão? Dois capangas foram mortos, provavelmente, por queima de arquivo. Isso mostra que o caso do Batz não tinha essa falta de materialidade assim.
– Bem, você não está errado.
– Aha! Tá vendo como o senhor precisa confiar mais no meu trabalho de detetive, Capitão? Eu sei que qualquer caso pode ser importante pra pegar alguém maior. Que nem aquele americano lá, o Tony Soprano, que foi pego porque não pagava direitos trabalhistas.
– Na verdade foi Al Capone. E ele foi pego por sonegar impostos.
– Aaaah! Mas o senhor entendeu onde eu quero chegar.
– Jerry, eu entendo a sua revolta. Só que nós, da Polícia, temos protocolos a seguir para mostrar que somos confiáveis. Além disso, assim como você se reporta a mim, eu também tenho superiores a quem devo me reportar. Se eles virem que estamos quebrando os protocolos, pensarão que nossa delegacia é uma bagunça.
– E qual o problema de ser bagunçado? Desde que a gente faça o nosso papel, não tem problema uma ou outra regra ser quebrada. Ainda mais quando a regra se trata da importância de um caso.
– Olha, Jerry, você e o Tom se envolveram demais nesse caso. Tirem uma meia hora pra tomar um café, esfriar a cabeça e depois voltem aqui para planejarmos os próximos passos da investigação.
Essa atitude não era comum no Capitão Gregade. Pelo visto, ele tinha consciência de seu erro, mas não queria admitir por causa de sua posição como chefe. Então, sem discutir mais, saí da sala do Capitão, fui até a mesa do Tom e chamei ele para irmos até a Padaria Nova Caledônia. Tom resisitiu um pouco no começo, mas quando eu expliquei que foi uma sugestão do próprio Capitão, ele foi.
Quando chegamos na padaria, nos sentamos em uma das mesas perto da janela. Aí o Seu Rogério veio nos atender:
– Opa! Se não são os meus investigadores favoritos de volta! O que aconteceu? Tão de greve?
Hoje, quando eu chego na Padaria Nova Caledônia, o Seu Rogério me chama apenas de J.B. Mas quando eu trabalhava na Polícia, ele falava em alto e bom som, pra todo mundo ouvir que eu era investigador. Como isso criava um clima ds apreensão no ambiente, vez ou outra eu pedia pra ele não falar isso tão alto, mas nesse dia eu estava nervoso, então, apenas fiz o meu pedido pra evitar de descarregar nele:
– Olha, Seu Rogério... Só um pingado e um pão na chapa, vai.
– Xiiii! Pedindo o café da manhã depois de já ter tomado café da manhã? O caso tá difícil?
– É, tá complicado mesmo! Mas por enquanto eu só quero... Atchim! Atchim!
– Ô Zé Maria! Tá fumando perto da chapa de novo, rapaz?
Enquanto eu ia espirrando descontroladamente por causa da minha alergia ao cheiro do cigarro do Zé Maria, Tom foi falando por mim:
– Ele tá irritado porque o Capitão não deixou a gente investigar um caso que ele achava sem importância...
– Atchim!
– Agora esse caso desgringolou numa coisa gigantesca e, aí sim, o Capitão resolveu oferecer ajuda. Confesso que eu também estou bastante chateado.
Seu Rogério ficou preocupado após essa fala do Tom:
– Tá envolvendo assassinato?
– Atchim!
– É... Eu acho que a gente não tá autorizado a falar muitos detalhes.
– Xiii! Então, tem isso envolvido, sim!
– Atchim!
– Rapaz, você nunca pensou em tratar isso num otorrino não? Vai encher a minha mesa de meleca aí.
– Ai... O que é isso?
– Otorrinolaringologista. Médico que cuida do nariz, garganta, ouvido... Toda essa região aí. Essa sua alergia a fumaça de cigarro não é normal, cara!
Naquela época, eu não tinha passado ainda no médico. Até porque eu não sabia em qual médico ir. Otorrinolaringologista, pra que um nome desses? Uma palavra com tantas letras deveria ser proibida.
Após mais alguns espirros, veio também uma situação constrangedora de várias pessoas estarem olhando meu nariz escorrendo. Sim, eu sei, eu deveria ter ido ao banheiro pra evitar o constrangimento, o problema é que eu não estava raciocinando direito na hora. O Seu Rogério me deu um pano para limpar e enquanto eu ia limpando, eu fui desabando mais um pouco:
– O pior não é isso, viu, Seu Rogério? Quando a gente estava investigando o caso por fora, a gente ia ter uma pista muito boa. O problema é que íamos precisar de um mandado.
Foi quando Tom levantou a cabeça subitamente, olhando para mim surpreso e perguntou:
– Você fala do vídeo gravado pela câmera de segurança do parque?
– Sim, esse mesmo.
– Jerry, agora a gente pode conseguir um mandado! O Capitão Gregade tá ajudando agora.
Minha mente clareou nessa hora:
– É mesmo! Vamos falar com o Capitão logo... após eu tomar o café que está chegando.
Engoli o café e o pão na chapa e voltei correndo com o Tom para a delegacia. Fomos direto à sala do Capitão Gregade e contamos essa história a ele. Com os detalhes que lembramos da gravação a tudo. O Capitão Gregade ouviu tudo e foi raciocinando em seguida:
– Quer dizer que teve uma testemunha que viu tudo e ainda foi socorrer o menino, Bocchio?
– Sim, Capitão! O que estamos suspeitando é que deve ter sido ela quem trouxe Daniel para a delegacia.
– E por que ela não entrou com ele? Ou por que não chamou os pais para vir?
– Pois é, isso é o que não encaixa.
O Capitão sentou à sua mesa e pegou o telefone:
– Eu vou emitir o mandado pra vocês. Vão atrás dessa gravação enquanto eu contato a família do menino para ver se ele pode vir identificar a senhora da gravação.
Após a emissão do mandado, eu o peguei com o Capitão e fui com o Tom para o Parque Campos Rosados mais uma vez. Uma coisa que eu fui me tocando no caminho é que, voltando para lá, nós íamos ter de falar com o Elias mais uma vez. Fui lá torcendo para que a carência dele não nos atrapalhasse de novo.
A ajuda do Capitão Lester Gregade veio, bem tarde, mas veio. Naquela hora eu sentia que, agora sim, nós iríamos pegar o mandante do crime. E Batz iria descansar em paz.
Continua...