Cavoucação
Aula de Ciências Humanas no ensino médio.
O professor se dirige a um dos alunos:
“Marcelo, me diga, o que significa antropocentrismo?”
“Antropocentrismo, professor? Não tenho a menor ideia...”
“Não mesmo? Já falei sobre esse conceito tempos atrás, quando estudamos um resumo do livro Sapiens do historiador israelense Yuval Noah Harari, lembram disso ou não?”
Alguns se lembraram do autor e ou do livro, mas não sabiam responder à pergunta inicial do professor. Ele então explica:
“Resumidamente, antropocentrismo é a concepção que considera o homem o centro do universo, ou seja, o centro de todas as coisas que existem na Terra e fora dela. E isso, como Harari demonstra, é uma simplificação...”
Nisso Marcelo pede a palavra:
“Professor, desculpe interromper, mas eu pensava, das aulas de Geografia, que o magma é que fosse o centro da Terra. Que quanto mais fundo a gente cavoucasse um buraco no chão mais quente ia ficando. Por conta do magma as temperaturas se tornassem cada vez mais elevadas...”
“Bem, Marcelo, você está confundindo um pouco as coisas, Antropologia com Geografia, mas tudo bem, falo do antropocentrismo depois. Ocorre que o centro da Terra não é composto pelo magma: seu núcleo interno é sólido, constituído basicamente por níquel e ferro. O magma encontra-se apenas nas camadas do manto e do núcleo externo e pode atingir temperaturas que variam entre 700 e 1.200º C. Ficou claro, Marcelo?”
“Sim, professor, ficou. Tudo isso é muito interessante e então eu não estava completamente errado quanto à questão das temperaturas... Mas esse conhecimento todo vai servir para alguma coisa prática um dia na vida?”
“Claro quer vai servir, rapaz, dependendo do que você for estudar ou for fazer no futuro. São questões que podem cair no vestibular, para quem for prosseguir nos estudos mais tarde. E outra coisa: como antes você falou em fazer um buraco na terra, então se for fazê-lo novamente, já sabe que precisa tomar cuidado para não se queimar!”
Na sequência, um engraçadinho do fundão da sala falou que estava sentindo cheiro não de terra, mas de cérebro queimado, então a turma caiu na gargalhada e aí a aula acabou.
A favor de Marcelo registre-se que ele era o único da classe que sabia conjugar o verbo cavoucar corretamente, enquanto a maior parte das pessoas fala em "cavocar", termo que não existe, pois são corretos apenas cavoucar ou cavucar. Mas hoje em dia muito pouca gente cavouca ou cavuca: prefere mesmo cavar um buraco, coisa mais fácil de se fazer do que conjugar corretamente certos verbos da complicada língua portuguesa. Com certeza.