O CONQUISTADOR
Dr. Maurinho era do tipo mignon, bem baixinho, e desde as primeiras horas do dia encontrava-se trancado no seu gabinete preparando o discurso que iria proferir a noite, por ocasião da apresentação do novo membro do clube.
Era um médico de baixa estatura, muito rico e de grande erudição, conquistador famoso, cuja fama corria longe.
Dr. Abelardo Silvano que chegara há poucos dias a cidade vindo da capital era o novo sócio que seria homenageado.
Dona Mariângela e suas três filhas já tinham marcado hora no salão de Rosita, os vestidos já estavam prontos e provados, assim como o terno do Dr. Maurinho.
Na roda de amigos a conversa girava em torno da festa, assim como do novo habitante e sócio do clube:
- É muito simpático o Dr. Abelardo, homem rico, culto e humilde: - disse Coimbra.
- Você tem razão, o homem é poderoso e humilde, qualidades difíceis de conciliar: - atestou Macedo.
- Sabem o que fiquei sabendo? – que o Dr. Abelardo é ou foi praticante de karatê, o homem é atleta – informou Juca Pimenta.
- Realmente ele tem porte atlético, é alto e muito forte. – tornou Macedo.
- Mas o que me causou muita admiração foi à beleza da esposa dele, parece mulher de televisão, vocês viram? – perguntou com admiração Coimbra.
- Sem dúvida é a mulher mais bonita da região, um mulherão. – confirmou Juca.
E assim a conversa durou ate a hora do almoço.
A noite todos estavam no clube, escolheram mesas próximas, e as mulheres logo se entrosaram, deixando os maridos mais a vontade.
Quando o Dr. Abelardo e sua esposa Alicia entraram no salão foram delirantemente aplaudidos e em sinal de agradecimento o doutor acenava ora com a cabeça, ora com a mão.
O homenageado e sua esposa tomaram assento numa mesa que lhes era reservada, imediatamente o garçom se aproximou a lhes servir.
O baile transcorria maravilhosamente, Alicia a bela mulher do Dr. Abelardo, causava inveja e frisson às mulheres que se encontravam no salão.
De repente o conjunto musical parou e do microfone assenhoreou-se Gonzaga o diretor do clube:
- Meus amigos estamos aqui nesta noite memorável para homenagearmos o nosso mais novo sócio, o Dr. Abelardo Silvano e sua esposa Dona Alicia para quem peço uma salva de palmas.
Feita a apresentação, o homenageado e sua esposa foram convidados a subir no palco onde receberam uma placa de condecoração.
Em seguida o Dr. Maurinho pediu a palavra e fez um bonito discurso falando das qualidades do homenageado, embora não o conhecesse.
Enquanto discursava o orador dirigia disfarçadamente olhares insinuantes para a mulher do homenageado.
Findo o discurso o Dr. Abelardo foi levado pelos diretores do clube para conhecer as pessoas importantes e presentes, deixando a sua esposa Alicia as voltas com algumas mulheres.
Perspicaz o Dr. Maurinho a retirou da roda levando-a para um canto mais discreto começando então uma conversa mole, querendo ser envolvente, era uma conversa cheia de lábia tentando ser sedutor.
A certa altura o galanteador colocou a mão sobre o braço da gentil senhora que elegantemente o retirou.
- Doutor Maurinho diga-me com sinceridade o senhor está me passando uma cantada? – indagou Alicia o olhando diretamente nos olhos.
- Não sei se pode ser chamado de cantada Alicia, o que estou tentando lhe dizer é que estou louco por você, nunca vi uma mulher tão bonita e tão encantadora.
- Dr. Maurinho o senhor é uma pessoa fina, logo se vê, porém antes de tudo sou uma mulher honesta, sou mulher de um homem só. – disse Alicia.
- Calma Alicia vou lhe explicar melhor, escute, por favor.
- Escute o senhor, mas deixemos isto para lá, vamos ver de outra ótica, se eu fosse desonesta e me envolvesse com você Dr. Maurinho, seria um péssimo negocio para mim, veja bem:
- Meu marido é um atleta, um homem alto, bonito, inteligente e muito interessante, quanto a você sei que é um bom orador, também tido como conquistador e daí? - em que você supera meu marido? – disse desafiadora Alicia, olhando o pequenino Maurinho de cima para baixo com desdém.
- Nossa Senhora não precisa ofender Alicia. - resmungou Dr. Maurinho.
- Não é ofensa, é uma constatação, o senhor como grande homem que é, deve procurar alguém a sua altura. - afinal quem tem um Abelardo como eu tenho, que serventia me faz um Maurinho?