Lastro

Anos atrás.

Durante as aulas sobre História da Inglaterra não podia faltar ele, Shakespeare, claro.

Dias depois, recordando os tópicos estudados, o professor começou a fazer perguntas para a classe.

Uma delas, sobre o bardo inglês, ele fez para o Jorginho.

Nosso colega não era lá nenhuma sumidade em qualquer matéria escolar, muito pelo contrário.

Ele teria ficado mais à vontade se a pergunta fosse sobre os Beatles ou Rolling Stones.

Ou ainda sobre futebol, algum jogador inglês de então.

David Beckham, por exemplo, conhecido por todos nós.

Mas a pergunta não foi sobre futebol, não.

Professor: Jorge, por que Shakespeare é ainda hoje tão admirado, respeitado e reverenciado?

Ele: Ah, professor, não sei muito bem, mas acho que é porque ele morreu faz mais de quatrocentos anos e até hoje a gente ainda não enjoou de comer romeu e julieta na sobremesa.

O professor permaneceu sério, claro, mas a sala caiu na gargalhada.

Hoje, porém, a resposta do Jorginho não me parece tão engraçada como então.

Ela não adquiriu lastro.

Ao contrário das obras do ilustre inglês, cada vez mais lastreadas.