História com H
Para Marx e Engels o comunismo seria "a doutrina das condições de libertação do proletariado". Coitados dos proletários que acreditaram nisso, especialmente os que viveram sob a ditadura stalinista, responsável pela morte de cerca de 20 milhões de pessoas: mujiques, operários, jovens, engenheiros e técnicos, agrônomos, economistas e pessoas comuns.
Devido à decisiva participação soviética para a vitória aliada na Segunda Guerra Mundial, Stalin durante muito tempo conseguiu esconder do Ocidente as mortes cometidas por seu governo. Qualquer um podia ser preso, taxado de contrarrevolucionário, inimigo da Revolução de 1917, que acabou com o czarismo.
Mortes horríveis aconteciam, geralmente por fuzilamento, mas também por fome e frio. As condições das prisões eram deploráveis e a muitos presos era permitido ficar apenas com as roupas de baixo em baixíssimas temperaturas. Acabavam morrendo, é claro. Os mortos eram muitas vezes amarrados uns nos outros e enterrados em valas comuns. São inúmeras páginas de Arquipélago Gulag, terríveis, narrando esses acontecimentos.
As prisões tinham às vezes motivos ridículos como causa, como os exemplos que Aleksandr Soljenitsyn nos apresenta a seguir. Conseguimos ler porque o autor trata tudo com ironia, ridiculariza o que era ridículo, daí o sucesso do livro. Vejamos três exemplos de aberrações prisionais recolhidos na pesquisa que ele fez para escrever seu livro:
“Uma vendedora, pegando a mercadoria com um expedidor, anotou em uma folha de jornal, pois não havia outro papel. O número de pedaços de sabão acabou ficando na testa do camarada Stálin.” Resultado: alguém viu, fez a denúncia e a “distraída” pegou dez anos de cana.
“Um tratorista da estação de máquinas e tratores Známenskaia aqueceu sua botina velha com o folheto de candidatos à eleição do Soviete Supremo. A faxineira, que respondia por esses folhetos, deu pela falta e descobriu com quem estavam.” Denunciado por agitação contrarrevolucionária o tratorista também pegou dez anos de xilindró.
“Um carpinteiro surdo-mudo também recebeu uma sentença por agitação contrarrevolucionária! Como? Estava assoalhando o chão de um grande salão, e o haviam esvaziado completamente, sem restar um cravo ou gancho. Durante o trabalho, largou o paletó e a boina em cima de um busto de Lênin. Alguém entrou e viu.” Dez anos de cana para o pobre carpinteiro.
Ah, como era bom viver na URSS stalinista, não? Também é muito bom viver na Rússia atual, ter um presidente como (o filho da) Putin, certo?
Tem ainda a China, onde de vez em quando alguma figura do governo subitamente desaparece não apenas das fotos oficiais (revisionismo histórico), também da vida...
Então, lembre-se, se você aprecia ditaduras (epa!), sempre tem um candidato do PCB para votar nas eleições.
E fique sossegado porque comunistas, mesmo aqueles bem gordinhos, não comem criancinhas.
Não pela boca, pelo menos...