O OSTENSÓRIO

A festa de consagração da igreja estava totalmente preparada, tudo organizado com esmero. No corredor, dividindo os bancos, foi estendido um bonito tapete vermelho, da porta de entrada ao altar.

Do lado de fora na escadaria, o padre Osmundo postava-se vigilante. Ao seu lado perfilavam-se o sargento Gonçalves e os soldados Itajair e Belmiro.

Também os principais moradores da cidade se faziam presentes, como Joaquim, da Padaria Pão Nosso, Lucrécio, da Farmácia São Félix, Bergamino, do cartório. Enfim, não faltava ninguém de considerável importância.

A Banda de Música Euterpe do Sertão, sob a batuta do maestro Ângelo, mais conhecido como Anjo, aguardava somente o sinal do padre Osmundo para os primeiros acordes.

Na entrada da cidade, o vigário tinha deixado de vigia Zé Preá. Era para quando o ostensório se aproximasse, ele viesse correndo avisar para que se iniciasse a queima de fogos de artifício e a banda do maestro Anjo desse o tom musical.

Aquela peça sacra a ostentar a hóstia consagrada viria da capital sob os cuidados de séquito integrado basicamente por beatas.

Sua previsão de chegada era para o horário da tarde, conforme dizeres do telegrama recebido no dia anterior.

Na porta da igreja era enorme a expectativa. Os comentários não paravam.

- Padre Osmundo, o senhor não acha que o ostensório está demorando muito? - perguntou Gê Sabiá.

- De acordo com o telegrama que recebi ontem, ele deve chegar por agora – respondeu-lhe o vigário.

Assentados em confortáveis cadeiras na porta do hotel de dona Glória, os hóspedes Jesuíno Batista e Rosental Mansur, ambos viajantes, conversavam sobre as anunciadas festividades.

- Mas me diga, Rosental, quando é que esse tal de ostensório chega? - indagou Jesuíno ao companheiro.

- Olhe, meu amigo Jesuíno, estão dizendo que chega hoje ainda, mas, com certeza, irá hospedar-se aqui com a gente. E antes de ir para a igreja na certa tomará um bom banho para livrar-se da poeira.

Na porta da igreja, o negrinho Biscuí, bateu na perna de Lucrécio da Farmácia para perguntar:

- Seu Lucrécio! Quem é mesmo esse tal de Ostensório?

- É uma pessoa muito importante, Biscuí.

- Mais que o bispo? --- insistiu o menino.

- Tem mais ou menos o mesmo poder - respondeu com sabedoria o comerciante.

De repente o vigia Gê Sabiá chegou esbaforido, anunciando a chegada tão esperada do ostensório. Imediatamente o padre Osmundo ordenou a queima de fogos. O maestro Anjo, orgulhosamente, deu início ao dobrado ensaiado especialmente para a solenidade.

Alguns minutos depois, entrou na praça da igreja, sob grande ovação, foguetes e ao som da banda de música Euterpe do Sertão, um velho carro-de-boi. Dentro daquele tradicional meio-de-transporte da zona rural estava um reluzente alambique, para desespero do padre Osmundo e susto do simplório peão carreiro, que nunca escutara tantos aplausos e manifestações outras, extremamente clamorosas.

RONALDO JOSÉ DE ALMEIDA
Enviado por RONALDO JOSÉ DE ALMEIDA em 08/01/2008
Reeditado em 10/01/2008
Código do texto: T807592
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