Caridade

Houve um tempo em que o Filho andava pelo mundo disfarçado de mendigo pedindo pão e água às pessoas. Esse era o sistema usado pelo Pai celestial para comprovar a caridade humana, ver quem era caridoso, matava a fome e saciava a sede do Filho ou não. E, por conseguinte, dos menos favorecidos sobre a face da Terra.

Do seu privilegiado posto de observação lá nas alturas Ele tudo via e anotava em seu grande livro de contabilidade quem um dia deveria ir para o Céu, os caridosos, ou para o Inferno, os outros, como disse o filósofo existencialista Jean-Paul Sartre que, no entanto, era ateu.

As pessoas mais velhas dizem que ainda hoje, apesar de todo o progresso científico e tecnológico, o Filho continua andando pelo mundo disfarçado de mendigo, a serviço do Pai, como antigamente. Mas que teria dado uma repaginada não exatamente em sua figura de mendigo, mas no modo como passou a se apresentar.

Agora o Filho anda acompanhado de um cãozinho caramelo, animalzinho que todo mundo adora, especialmente os brasileiros. Assim, além de água e comida, é sempre bom deixar um osso de frango de reserva para ele, o cãozinho, não o Filho, caso este bata em sua porta. E cuidado: há um imitador do Filho se aproveitando da caridade alheia.

O falsário se apresenta acompanhado de um gato vira-lata, não do cãozinho caramelo, tem olhos azuis, longos cabelos loiros e costuma atender pelo apelido de Mendigato. Então, veja lá se não vai se enganar: caramelo é sempre caramelo, gato mia e lebre chia, cordeiro bale e coruja pia.

Seja pio, seja caridoso!