Só sei que nada sei: entornei

Como fazia todo dia

Depois que deixava a Academia

A um boteco de Atenas

O filósofo se dirigia.

Tomava um bom gole de cicuta

Sozinho mesmo ou

Na companhia de alguma prostituta

Que ali estava não exatamente para filosofar

Mas para pegar cliente e com ele ir rimar.

Hoje, porém, o pensador estava cansado

Além disso era casado

Tinha de pra casa voltar

Comer alguma coisa lá, jantar.

Não podia ficar rimando

Com a prostituta do boteco

Ela que arranjasse algum perieco

Ou então algum meteco

E com um deles ou com os dois

fosse rimar em outro lugar.

A noite sobre Atenas caía,

amanhã seria outro dia

E tão logo o sol brilhasse

Ele de novo estaria

Lá na Academia

Na labuta.

Ensinaria filosofia

Para os efebos que até ali

só sabiam que nada sabiam,

fazê-los pensar um pouco,

ah, que luta!

Mas um dia esses discípulos

Dariam inveja ao mestre

Entornariam deca,

hecto e quilolitros de cicuta,

Mas por ora não passavam mesmo

De um bando de filhos da pátria.

Ah, que saudade da velha Acrópole, onde se podia beber a melhor cicuta de toda a Grécia e, num banquete de ideias, trocar uma porção delas com aquele querido amigo platônico...