Sopa de letras
Bem na hora em que o pai assistia ao futebol das quartas-feiras na tevê, Júnior resolveu perturbá-lo com outra de suas perguntas, algumas que o genitor considerava esquisitas, sinal dos tempos. Tinha a ver com algo aprendido (ou, sabe-se lá, desaprendido) na escola, não exatamente com os mestres, mas com os coleguinhas de classe. Foi esta:
“Paiê, que qui quer dizê LGBTQIA mais alguma coisa... Você sabe?”
O pai queria ver o jogo, então deu logo uma resposta genérica: “Ah, isso aí é um gênero de sopa de letras. Você tomava sopinha de letras quando era bem pequeno, não lembra?”
“Lembro um pouco... Tomei muita sopa, de tanta coisa diferente, tanto aqui em casa quanto na escola, mas essa de LGBTQIA mais alguma coisa acho que nunca me serviram. Não tem a ver com sexo também?”
“Não tomou porque já havia passado sua fase das sopinhas. E sim, tem a ver com sexo, tanto masculino quanto feminino. Mas é uma sopa para adultos, para maiores de 18 anos, sabia?
“Não sabia. É mesmo? E, paiê, onde é que se pode tomar essa sopa?”
“Pode tomar em vários lugares, depende do gosto do freguês, da freguesa...”
“Hum... Como não gosto de sopa mesmo, acho que quando crescer mais não vou querer tomar não.”
“Fico muito feliz em saber disso, filho.”
Eu também, que nem conheço direito esses dois e nunca tomei sopinha de letras: já nasci sabendo ler e escrever. No entanto, ainda permaneço um tanto analfabeto mental. Tudo bem, ninguém é perfeito mesmo.