MINHA MALDITA CAGADA
MINHA MALDITA CAGADA
Carlos Roberto Martins de Souza
Tem coisas que você não esquece nunca, são situações cômicas, que você vai rir toda vez que lembrar. Não viajava de ônibus já tinha décadas, mas para agradar aos meus netos, resolvi fazer uma pequena viagem junto com eles, seria uma rota urbana, que daria numa área rural, seria ida e volta no mesmo dia. Marquei sairmos seis horas da manhã, um trajeto de pouco mais de cinquenta minutos. Era só alegria, na hora marcada, fomos os primeiros a entrar no coletivo, e eu já senti que alguma coisa digna de um acidente de percurso estava para acontecer. Uma fisgada doida no bucho parecia dizer que eu seria vítima de uma cômica situação. A fisgada se repetiu, agora seguida de uma explosão interna, que parecia ter destruído todas as tripas. Olhei para um lado e para o outro, não havia banheiro no tal coletivo, tive que, por um tempo, segurar o fiofó na chave de tranca bunda. A criançada fazia a festa, eu fazia de conta que nada de anormal acontecia, tentava fazer aquela cara de feliz e satisfeito. No primeiro buraco, aquele solavanco me deixou atordoado, parecia que enfiavam uma faca no bucho, enrolei uma perna na outra pensei, seja o que Deus quiser. E quis... Como quis! A barriga, em estado de parto, fazia um barulho como peidar numa piscina, eu via as bolhas saindo em forma de chamas. Um dos meus netos percebeu o drama e perguntou se estava tudo bem, e só consegui balançar a cabeça num sim duvidoso. A respiração ofegante, as mãos transpirando e a voz embargada me denunciaram, eu de vovó brincalhão, agora era uma estátua em ebulição. Comecei a sentir que o negócio nas tripas era mole, água pura, ou melhor, pura água. A pressão só aumentava, o pobre orifício anal ardia de tanta força vertical, nunca imaginei que segurar o barro dava tanto trabalho. Torcendo para chegar logo, pois poderia aliviar a carga, o ônibus para, iria pegar um cadeirante, e ai pensei, vou disfarçar e tentar aliviar soltando um pum. Desgraça pouca é bobagem, o trovão veio com um baita deslizamento de terra, só deu tempo de trancar as partes, respirar e ver o que iria acontecer. Graças a Deus, era propaganda enganosa. O elevador emperrou, a situação se agravava, eu tentava "puxar" de volta com a força do bituim, mas logo descia de novo, foram momentos de terror, suava igual uma garrafa de Brahma gelada. Ouvi de novo: - Vovô, o senhor está bem? De novo só sacudi a cabeça, pois um gosto de prego tomava conta da minha boca. Voltamos ao trajeto, em dado momento, no desespero, me levantei e coloquei a cabeça pra fora pra pegar um ar, precisava de ajuda externa para aliviar o sofrimento. Numa freada brusca, veio um torcedor mortal, parecia que meus esforços seriam em vão, senti uma gotinha melada tocando suavemente a cueca, ela precisou de muita força para ganhar a liberdade. De novo, enrolei uma perna na outra, uni todas as forças em torno do fiofó, respirei fundo a fim de fortalecer a tranca. O esforço físico era gigante, e ai, para piorar, veio aquela famosa câimbra de velho, daquelas de matar, uma dor terrível agora fazia coro com as tripas se contorcendo. Uma mocinha, sentada no banco do lado, percebeu a minha aflição, achou que eu estava tendo um infarto, logo gritou que precisava chamar o SAMU. Tentei disfarçar, fingindo ser apenas um mal estar, e não uma vontade desgraçada de cagar. A viagem de cinquenta minutos, parecia uma viagem à lua, uma eternidade, e qualquer bobeada, uma só afrouxadinha, e seria o caos, restava esperar pelo pior, eu cagaria na calça, na cueca e no banco do ônibus, pior, teria que descer, todo borrado, fedendo, sem contar que muita gente me olharia e iriam dar gargalhadas. Sem contar que o veículo teria que ser interditado. Um desastre total. Não aguentei a pressão, pedi ao condutor para parar, pois precisava resolver uma situação de emergência, chamei os guris, expliquei que precisava de um banheiro. Dali até o ponto final, nosso destino, havia um bom percurso à pé, e eu teria que negociar com o bucho, pois a revolta das tripas estava em andamento. Comecei a andar trancando a bunda, todos percebiam o meu desatino, era cômico ver um velho prendendo a bosta. Ufa! Caminhando e trancando, cheguei ao ponto combinado. Lá havia um banheiro privado para os funcionários da empresa, segui tentando mostra a calma possível em momentos como este, havia uma escada, para meu desespero, várias pessoas na minha frente, todas caminhando como se nada estivesse acontecendo, e novamente bate o desespero. Mandei meus netos irem para debaixo de um árvore para esperar, pois a gelatina pastosa queria ir para a mesa. Se eu pudesse ver meus olhos, com certeza não tinha vida ali, estavam esbugalhados, a pressão era tanta, que eles estufaram para fora. Desci as escadas, degrau por degrau, com o anel na mão, torcendo para não ter contratempo. O que era uma diversão, agora era tinha uma versão de filme de terror, jamais imaginei ter que usar um banheiro no fim do mundo que me salvasse do desastre. Abri a porta já aflito, pois o caldo estava pedindo passagem, de cara percebi que do papel higiênico só restava o miolo, aquele rolo de último suspiro. Só não tinha um lugar melado de fezes, o teto, pensei, “cagar ou não cagar, eis a questão”. Decidi defecar, pois não havia alternativa, desci a bermuda, trepei no trono, equilibrei sobre as pernas, quase não deu tempo, mas segurei a barra e mijei pela porta dos fundos. Acho que a um quilômetro se ouviu o tiro, a merda em fase de líquido, veio empurrada por um míssil, foi um som de peido molhado inconfundível, parecia uma descarga num vaso tomado de barro. Assustado, de novo vem o meu neto desconfiado de que eu não estava bem, e arrematou: - Vovô, se precisar de ajuda, me avise. Foram uns trinta minutos de aflição, as tripas pareciam que sairiam junto, o buraco já tinha os beiços virados, carecendo de um limpeza. Foi aí que percebi a utilidade da cueca, eu nunca imaginei que ela seria o meu socorro na angústia. Peguei a bendita peça, que aliás, tinha uma intimidade profunda com a região do combate, agradeci, pedi desculpas a ela, e só assim me senti aliviado. Meu pobre fiofó sucumbiu naquele dia, usei a força de todas as pregas naquele momento de terror e desespero, pensei que teria que procurar um urologista, pois a “Flor de Ânus” havia desabrochado. Sai dali, lógico, sem graça, pois o odor contaminou o local, depois da cagada me senti leve como se tivessem tirado o demônio do meu corpo. Com certeza, foi o momento mais crucial da minha vida, eu nunca pensei que uma cagada poderia causar tanto sofrimento. Quando abri a porta, pensando que o clima de guerra havia acabado, meu netinho de cinco anos arrematou: - Vovô cagão... Tive que cagar de rir...