Ivair e Escolástica, pontualidade amorosa
Que o hoje ex-caminhoneiro Ivair é dado a uma cervejinha, nisso todo mundo estava de acordo. Amigos, parentes, e a até dona Escolástica, sua companheira de trinta e cinco anos, que jamais se queixava de solidão ou dalgum deslize do maridão.
Juntos, no entanto, era rara a vez que se os via. Algum ato religioso, ao qual Escolástica era sempre mais frequente, ou a algum sarau bem familiar, bem íntimo que fica aqui até difícil de definir...
E o Iva, pai de uma penca de filhos já donos ou buscastes dos próprios narizes, não deixava tampouco de ser pontual nos seus retornos - já bem calibrados - ao aconchegante, ainda que agora quase vazio lar... sempre antes das nove. E quem o viu mais cedo, que o prove.
Mas houve aquele sábado em que o compromisso do casamento de uma filha de amigos era tão sagrado quanto o próprio matrimônio. E a cerveja mais ainda. Afinal era necessário estar inspirado numa ocasião daquelas. E aquele famoso dito, nunca podia agora ser mais bendito: Deus conserva, e principalmente aos seus, com cerva...
O negócio é que quando o Iva botou os pés em casa naquele dia, a mulher sempre tão cordata, estava uma fera. E até mais: simplesmente histérica, pois já passava mais de uma hora do início da cerimônia - da qual eram padrinhos... Escolástica subiu o tom e ameaçou romper o laço do matrimônio. Ameaçou só não, já foi discando o telefone - fixo - pedindo um táxi para o adeus ...aos prantos...
Ao que Iva retrucou:
- Que isso, muié, se por ficar uma hora sem a minha presença já te enlouquece, imagine agora se pro resto da vida....?