Uma anedota húngara

Extraida de um trecho do livro A Exposição das Rosas (1977), de István Örkény (1912-1979), publicado no Brasil pela Editora 34, em 2016. Completa o livro outra história de Örkény, A Família Tóth (1967).

Em A Exposição das Rosas, uma equipe da televisão húngara trabalha num projeto de documentário que pretende registrar a morte em suas várias formas. Os dois personagens centrais, ambos funcionários da estatal, conversam sobre o assunto:

“Eu (...) gostaria de produzir um documentário”, diz um deles.

“A respeito do quê?", quer saber o outro.

“A respeito das formas que a nossa morte assume.”

“Com atores ou personagens reais?”

“Somente teria sentido com personagens reais.”

“Desde que você encontre gente disposta a morrer diante dos olhares de milhões de espectadores.”

“E você não se disporia?”

“Pretendo viver por longo tempo”, responde o outro sorrindo.

“Sim, mas você já teve um infarto.”

“É verdade”, concordou o outro, com a generosidade dos ébrios: “O meu próximo infarto é seu.”

“Isso é muito gentil de sua parte.”