Antena paranoica
Depois que a companhia de trânsito cortou nosso sinal de recepção do gatonet, imagens de televisões do mundo inteiro deixaram de circular pelas ruelas do nosso beco favelar, melhor, no nosso barraco.
Para resolver o problema o miliciano amante de nossa mãe roubou da casa de um marginal de uma milícia concorrente uma antena paranoica e instalou-a no nosso barraco. Depois de disfarçá-la com pedaços de arame, fitas isolantes coloridas e pedaços de plásticos diversos, o que melhorou muito a recepção dos canais russos e chineses, nossos favoritos.
Graças a essa maracutaia, agora podemos assistir sossegadamente (quer dizer, se outro morador não roubar nossa antena), diversas produções nacionais e estrangeiras, e assim outro dia acabamos vendo um filme muito interessante chamado Freud, Além da Alma, que mostra as aventuras de um cientista austríaco que tinha um caso sexual com um charuto e um sofá, que não era bem um sofá, mas um divã.
Não undivam, que Undivam é o nome de um de meus primos, que ele é tão desequilibrado quanto nós daqui de casa, que apreciamos demais um reality show transmitido diretamente da cada da mãe Joana, onde os caras comem a própria merda se os enfermeiros antes não amarrarem eles com camisas de força.
Metade dos pacientes desse show é bolsonarista radical e metade é lulista também radical, quer dizer, pesando bem as coisas, é tudo merda da mesma latrina. Ou, mais educadamente, gado do mesmo pasto, só que uns são bovinos e outros são equinos. Mas estão sempre fazendo merda e mandando a conta para os patrocinadores.
Me cago de rir com as confusões que aprontam, as trapalhadas que fazem, especialmente quando uns tentam roubar os móveis e as joias dos outros, que são notadamente ladrões de empresas estatais. Mas o que isso quer dizer exatamente não sei. E por aí vai...
Fora isso, o Rio de Janeiro continua lindo.